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Líbia anuncia um cessar-fogo, comunidade internacional se prepara

Agência France-Presse
postado em 18/03/2011 17:47

Benghazi - O regime líbio, sob a ameaça de ataques aéreos após a resolução tomada pela ONU, anunciou nesta sexta-feira (18/3) um cessar-fogo recebido com desconfiança tanto pela oposição como pela comunidade internacional.

Durante o dia, os rebeldes denunciaram que as forças leais a Muamar Kadafi continuavam atacando, o que foi desmentido por Trípoli.

O presidente americano Barack Obama ameaçou o líder líbio com uma operação militar se os ataques contra civis forem mantidos, e uma cúpula União Europeia-União Africana-Liga Árabe prevista para sábado, em Paris, vai discutir a realização de eventuais operações militares.

"A Líbia decidiu iniciar imediatamente um cessar-fogo e pôr fim a todas as operações militares", declarou o ministro líbio das Relações Exteriores, Mussa Kussa, no início da tarde em Trípoli.

"Blefe"
Em Benghazi, bastião da insurreição, o comandante dos rebeldes, Khalifa Heftir, denunciou um "blefe" do ditador líbio Muamar Kadafi.

Um porta-voz dos rebeldes assegurou que as forças do governo não respeitam o cessar-fogo, denunciando os bombardeios constantes sobre Zenten e Misrata, no oeste, e em Ajdabiya, no leste. As autoridades desmentiram e convidaram Turquia, Malta e China a enviar observadores.

Não era possível constatar nesta sexta-feira à noite se o cessar-fogo estava sendo aplicado. Após o seu anúncio, jornalistas da AFP ouviram combates travados 100 km ao sul de Benghazi, além de seis a oito fortes explosões mais distantes, de origem indeterminada, do centro de Trípoli.

A comunidade internacional reagiu com desconfiança. "Não vamos nos deixar impressionar por essas palavras. Precisamos ver ações concretas", declarou a secretária de Estado americana Hillary Clinton.

Na dúvida, "tudo está pronto" para uma intervenção, anunciou no final da tarde o ministro francês das Relações Exteriores, Alain Juppé, indicando que a reunião de sábado será decisiva.

Pouco depois, o Palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa, anunciou uma posição mais veemente de alguns países.

Ultimato

França, Grã-Bretanha, Estados Unidos e países árabes deram um ultimato ao líder líbio, Muamar Kadafi, para que dê fim imediato a todos os ataques contra a população, sob pena de uma intervenção militar autorizada pela ONU, anunciou a Presidência francesa.

"A resolução 1973 adotada pelo Conselho de Segurança impõe obrigações bem claras e que devem ser respeitadas", indica o comunicado.

Em uma mensagem endereçada ao coronel Muammar Kadafi, a França, com os Estados Unidos, o Reino Unido e os países árabes alertam o dirigente líbio que aplique o cessar-fogo imediatamente.

"Kadafi deve pôr fim ao avanço de suas tropas contra Benghazi e se retirar de Adjdabijah, Misratah e Zawiyah. O fornecimento de água, eletricidade e gás deve ser restabelecido em todas as zonas. A população deve poder receber ajuda humanitária", acrescenta o comunicado.

"Isso não é negociável", enfatiza o texto.

Descartando sempre o envio de tropas terrestres à Líbia, Obama declarou em um discurso na Casa Branca que mobilizará forças americanas para a instauração de uma zona de exclusão aérea.

"Sem controle, Kadafi poderá cometer abusos contra seu povo. Milhares de pessoas poderão morrer. Uma crise humanitária terá início",insistiu o presidente americano.

ONU

Na quinta-feira à noite, o Conselho de Segurança da ONU votou em favor de um recurso à força contra as tropas de Kadafi, abrindo caminho para ataques aéreos mais de um mês depois do início de uma insurreição reprimida com violência.

Ela autoriza o uso de todas as medidas necessárias para proteger os civis e impor um cessar-fogo.

Canadá, Noruega, Dinamarca e Bélgica manifestaram a sua intenção de participar das operações com aviões e navios, seja para um ataque ou para operações humanitárias.

A Itália, antiga potência colonial e maior sócio comercial da Líbia, fechou a sua embaixada em Trípoli e anunciou que estava preparada para "colocar à disposição suas bases" militares.

A China, que, assim como Rússia, Alemanha, Brasil e Índia se abstiveram durante a votação de quinta-feira na ONU, se disse "contrária ao uso da força militar". Berlim fez uma advertência para os "riscos" e Moscou descartou sua participação.

O coronel Kadafi, por sua vez, chegou a ameaçar "transformar em inferno a vida" daqueles que atacarem a Líbia, em uma entrevista algumas horas antes da votação.

A ONU teme, principalmente, represálias contra os civis. "Ninguém sabe o que acontece nas cidades retomadas pelas forças do governo", indicou Rupert Colville, porta-voz do Alto Comissariado de Direitos Humanos.

Os autores de crimes contra civis serão "levados à justiça", advertiu, por sua vez, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

No terreno, onde as forças do governo registraram grandes avanços nestes últimos dias com bombardeios, os combates continuaram, pelo menos até o início da tarde, no leste e no oeste.

No oeste, as forças leais a Trípoli atacaram Misrata (200 km a leste de Trípoli), segundo um porta-voz dos insurgentes. No leste, combates foram registrados nas imediações de Ajdabiya, cidade estratégica ainda em parte nas mãos dos rebeldes.

Em Benghazi, a resolução da ONU foi comemorada durante toda a noite, apesar das ameaças do coronel Kadafi na véspera. Milhares de pessoas, homens, mulheres e crianças, se reuniram no centro para a grande oração desta sexta-feira, antes que retomassem as comemorações. "Levante a cabeça, você é líbio", bradava a multidão.

Êxodo

Cerca de 300.000 pessoas fugiram da violência na Líbia, segundo a ONU, que prevê que de 1.500 a 2.500 pessoas continuem deixando o país todos os dias. A ONU anunciou nesta sexta-feira que não chegou a um acordo com a Líbia sobre as condições de envio de uma missão humanitária.

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