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Líbia: bombardeios contra reduto rebelde antes de cúpula crucial em Paris

Agência France-Presse
postado em 19/03/2011 11:26
BENGHAZI - O reduto da rebelião líbia em Benghazi (leste) foi bombardeado neste sábado antes de uma crucial reunião entre União Europeia e Liga Árabe em Paris, que pode ser seguida por uma intervenção militar internacional no país do Norte da África.

O regime do coronel Muamar Kadhafi acusou neste sábado os insurgentes de terem violado perto de Benghazi o cessar-fogo anunciado por Trípoli na sexta-feira, sob a ameaça de bombardeios aéreos autorizados por uma resolução da ONU. "Grupos da Al-Qaeda (como o regime se refere aos rebeldes) atacaram unidades das forças armadas localizadas a oeste de Benghazi que aplicam o cessar-fogo anunciado pela Líbia ontem (sexta-feira)", afirmou a Jana.

Milhares de pessoas fugiam neste sábado de Benghazi, onde pela manhã foram registrados bombardeios, e um avião militar foi derrubado. Inicialmente, se pensou que se tratava de uma aeronave das forças de Kadhafi, mas uma fonte rebelde indicou posteriormente à AFP que era um aparelho dos insurgentes. Nesse contexto, uma cúpula União Europeia e Liga Árabe ocorre neste sábado ao meio-dia local em Paris.

Diante da dúvida se a Líbia respeita o cessar-fogo, "tudo está pronto" para uma intervenção, anunciou o chanceler francês, Alin Juppé, que disse que a cúpula seria decisiva. "Creio que depois da cúpula, nas próximas horas, lançaremos uma intervenção militar", declarou por sua vez o embaixador da França na ONU, Gérard Arau. "Estados Unidos, Grã-Bretanha e França deram um ultimato para o cessar-fogo (...). Fixamos as condições", completou.

Antes de se iniciar a cúpula, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, reuniu-se com o premiê britânico, David Cameron, e a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, e o próprio Juppé.

Qatar, Emirados Árabes Unidos, Marrocos e Jordânia, representados por seus chanceleres, são os países árabes que participam da cúpula, que iniciou às 09h30 de Brasília.

Na quinta-feira, o Conselho de Segurança da ONU votou a favor de recorrer à força contra o regime de Kadhafi, abrindo o caminho para bombardeios aéreos um mês depois do início de uma revolta na Líbia.

A resolução 1973 autorizou "todas as medidas necessárias" para proteger os civis e impor um cessar-fogo, assim como para deter todas as operações terrestres. Também proibiu voos sobre a Líbia.

Assim, uma coalizão liderada por Estados Unidos, França e Reino Unido, com a participação do Qatar, parece obter forma para intervir. A Otan também deve desempenhar um importante papel de apoio.

A Espanha disse que "vai colocar à disposição da Otan as bases de Rota e Morón (Andaluzia, sul), assim como meios aéreos e navais com a devida autorização do Parlamento".

No entanto, Kadhafi afirmou neste sábado que o presidente francês, Nicolás Sarkozy, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, lamentarão uma ingerência nos assuntos internos da Líbia. "Se intervirem no nosso país, lamentarão", disse o porta-voz, citando o número 1 do regime líbio.

Além de Sarkozy, Cameron e Ban, Kadhafi dirigiu uma mensagem "urgente" ao presidente americano, Barack Obama, segundo o porta-voz.

Na mensagem transmitida a Obama e ao secretário-geral da ONU, Kadhafi disse: "todo o povo líbio está comigo e está disposto a morrer por mim, os homens, as mulheres e as crianças".

O vice-ministro de Relações Exteriores líbio, Khaled Kaaim, disse que uma intervenção externa na Líbia conduziria seus vizinhos a se unirem às forças do coronel Kadhafi. "Se um ataque estrangeiro ocorrer, ou uma intervenção externa, não seriam apenas os líbios que lutariam, mas também argelinos, tunisianos, egípcios... todos participariam dos combates em solo líbio", afirmou Kaaim neste sábado em declarações à rádio BBC 4. "O cessar-fogo está em vigor. As forças aéreas líbias em sua totalidade estão inativas, já que respeitamos a resolução 1973 da ONU e o cessar-fogo é real, crível e sólido", afirmou o vice-ministro.

O cessar-fogo anunciado na sexta-feira pelo regime líbio tinha sido acolhido com grande ceticismo pela comunidade internacional. "Não vamos nos impressionar com palavras. Precisamos ver os fatos sobre o terreno", declarou Hillary Clinton.

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