Agência France-Presse
postado em 21/03/2011 09:42
TRÍPOLI - A coalizão internacional bombardeou Trípoli na madrugada desta segunda-feira (21/3) e tentava cortar as linhas de abastecimento das tropas leais a Mumamar Kadhafi.A coalizão executou novos bombardeios aéreos e disparos de mísseis de cruzeiro Tomahawk na segunda noite da operação Odisseia da Alvorada, em aplicação a uma resolução da ONU que ordena o fim dos ataques das tropas de Kadhafi contra a população civil nas zonas sob controle rebelde.
A primeira série de ataques permitiu afastar as tropas do regime das imediações de Benghazi, o reduto da oposição, 1.000 km ao leste de Trípoli.
A primeira fase foi um sucesso e permitiu instaurar uma zona de exclusão aérea, declarou no domingo o principal comandante militar americano, o almirante Michael Mullen.
A próxima etapa consistirá em atacar as rotas de fornecimento das tropas do regime, com o objetivo de limitar a capacidade de ação.
"As forças de Kadhafi estão dispersadas entre Trípoli e Benghazi, e vamos tentar cortar o apoio logístico a partir de amanhã (segunda-feira)", declarou o almirante Mullen.
Um porta-voz do Exército líbio anunciou no domingo um cessar-fogo, em resposta a um pedido da União Africana (UA), que solicitou o fim imediato das hostilidades".
Mas o conselheiro do presidente americano Barack Obama para a Segurança Nacional, Tom Donilon, afirmou que o anúncio líbio era "uma mentira" e que havia sido "imediatamente violado" pelas forças de Kadhafi.
Um míssil destruiu no domingo um edifício administrativo situado no complexo residencial de Kadhafi no bairro de Bab el-Aziziya, em Trípoli.
O prédio, situado a cerca de 50 metros da tenda onde Khadafi recebe geralmente seus convidados importantes, foi totalmente destruído.
Trata-se de um prédio administrativo que foi atingido por um míssil, confirmou o porta-voz do regime, Musa Ibrahim, aos jornalistas estrangeiros.
"Foi um bombardeio bárbaro, que poderia ter atingido centenas de civis congregados na residência de Muammar Khadafi, a cerca de 400 metros do prédio atingido", declarou Ibrahim, que denunciou as "contradições do discurso ocidental".
"Os países ocidentais dizem querer proteger os civis, mas atacam uma residência onde sabem que há civis no interior".
Na coalizão há versões diferentes sobre o objetivo dos bombardeios.
No Pentágono, o vice-almirante Bill Gortney garantiu que o alvo dos ataques da coalizão não era o coronel Kadhafi.
"Posso garantir que (Kadhafi) não figura na lista dos nossos alvos. Não visamos sua residência", declarou o almirante.
Mas o ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, não descartou que Kadhafi possa estar no alvo dos mísseis ocidentais.
Um alto funcionário da coalizão afirmou à AFP que o ataque contra o edifício da residência de Kadhafi destruiu a "capacidade de comando e controle" do ditador líbio.
"A coalizão está aplicando ativamente a UNSCR (Resolução do Conselho de Segurança da ONU) 1973 e, de acordo com esta missão, continuamos os ataques contra objetivos que representam uma ameaça direta ao povo líbio e a nossa capacidade de implementar a zona de exclusão aérea", disse a fonte, que pediu anonimato.
Estados unidos, França e Grã-Bretanha iniciaram os bombardeios no sábado, em aplicação à resolução da ONU.
Esta é a maior operação de países ocidentais no mundo árabe desde a invasão do Iraque por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos em 2003.
A aviação francesa bombardeou posições das forças de Kadhafi e os navios e submarinos americanos e britânicos dispararam no sábado à noite 120 mísseis de cruzeiro Tomahawk.
Kadhafi, 68 anos, no poder desde 1969, se mostrou desafiante e previu "uma longa guerra" no Mediterrâneo.
O regime líbio afirmou que os ataques da coalizão mataram dezenas de civis, mas o porta-voz do Pentágono negou a informação.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, declarou esperar que a Líbia "cumpra a promessa".
"As forças líbias já haviam anunciado o fim das hostilidades na sexta-feira, mas continuaram atacando a população civil. Esta (proposta) tem que ser verificada e comprovada", disse.
Itália, Bélgica e Espanha anunciaram participação na operação e outros países árabes, como Qatar e Emirados Árabes Unidos, se unirão em breve, segundo a Grã-Bretanha. Quatro caças Tornado italianos participaram nas missões de domingo.
O secretário-geral da Liga Árabe, o egípcio Amr Musa, afirmou nesta segunda-feira que seus comentários sobre a ofensiva foram "mal interpretados". Ele disse no domingo que os bombardeios da coalizão internacional contra a Líbia se afastavam do "objetivo que passa por impor uma zona de exclusão aérea".
"Estamos comprometidos com a Resolução 1973 da ONU e não temos nenhuma objeção a respeito, mais concretamente, à não invasão do território líbio", declarou Musa.
"Estamos trabalhando em coordenação com as Nações Unidas para proteger os civis na Líbia", completou.
Ban Ki-moon declarou nesta segunda-feira no Cairo que "as fortes e decisivas medidas" foram possíveis graças ao apoio da Liga Árabe e pediu à comunidade internacional que fale "com apenas uma voz sobre o cumprimento da resolução".
A intervenção militar era desejada pela oposição líbia, sobretudo depois que nos últimos dias as forças governamentais tomaram o controle de vários redutos insurgentes com ataques aéreos e tiros de foguetes.