Benghazi - Franco-atiradores leais ao coronel Muamar Kadafi mataram nesta segunda-feira (21/3) ao menos 40 pessoas e feriram 300 no reduto rebelde de Misrata, denunciaram fontes insurgentes, no terceiro dia da ofensiva lançada por uma coalizão internacional contra o regime líbio.
Um porta-voz rebelde disse que em torno de 500 pessoas foram levadas "sob ameaças" ao centro da cidade, a 200 km a leste de Trípoli, para manifestar seu apoio ao regime, provocando uma contra-manifestação de milhares de moradores.
Esse foi o momento escolhido pelos franco-atiradores posicionados nos telhados para abrir fogo contra a multidão, de acordo com o porta-voz.
Coalizão
França e Estados Unidos asseguraram que os bombardeios da coalizão evitaram um banho de sangue em Benghazi, a capital rebelde, a 1.000 km a leste de Trípoli, e cortaram a ofensiva contra zonas rebeldes, apesar de terem surgido crescentes dúvidas, dentro e fora da coalizão, sobre a finalidade e os meios da operação.
O ministro francês de Relações Exteriores, Alain Juppé, considerou que a operação lançada no sábado com participação americana, francesa e britânica foi um "êxito", porque permitiu "salvar os civis de Benghazi".
O general Carter Ham, chefe do Comando americano para a África, afirmou que as forças de Kadafi mostravam "pouca vontade ou capacidade de retomar as operações ofensivas" nessa região.
As forças de Kadafi "estão dispersas entre Trípoli e Benghazi e vamos tentar cortar o apoio logístico a partir de amanhã", tinha afirmado no domingo o máximo oficial americano, o almirante Michael Mullen.
Quatro aviões F-16 belgas somaram-se nesta segunda-feira à operação internacional, em uma missão destinada a "proteger a população civil", anunciou o ministro belga da Defesa, Pieter De Crem.
A coalizão realizou pela segunda noite consecutiva, de domingo para segunda-feira, bombardeios aéreos e disparos de mísseis de cruzeiro Tomahawk, em aplicação a uma resolução da ONU que ordena frear os ataques das tropas de Kadafi contra a população civil nas regiões sob controle rebelde.
Um míssil destruiu um edifício administrativo do complexo residencial de Kadhafi em Trípoli, onde segundo a coalizão funcionava um centro de "comando e controle".
Alvo
O vice-almirante americano Bill Gortney negou no domingo que o objetivo dos ataques seja matar Kadafi. Mas o ministro britânico de Relações Exteriors, William Hague, recusou nesta segunda-feira descartar essa possibilidade.
O porta-voz da diplomacia americana, Mark Toner, disse que o objetivo final da intervenção é que Kadafi "deixe o poder".
[SAIBAMAIS]
As forças de Kadafi, que antes da ofensiva aliada tinham iniciado o ataque a Benghazi, mobilizaram-se nesta segunda-feira a Ajdabiya, 160 km ao sul, indicaram jornalistas da AFP.
Ao longo da estrada entre as duas cidades, podiam ser vistos dezenas de tanques destruídos pelos bombardeios, mas várias centenas de rebeldes que tinham se reunido para atacar Ajdabiya foram dispersados por disparos da artilharia governamental.
"Pedimos mais bombardeios. Queremos que (os aliados) bombardeiem os aeroportos e os tanques" de Kadafi, disse Aalman Maghrabi, um dos insurgentes.
O regime proclamou no domingo um novo cessar-fogo, apesar de acionar sua artilharia há três dias contra cidades de Zenten e Yefren, a sudeste de Trípoli.
O regime denunciou, por sua vez, que os ataques da coalizão tinham matado no sábado 48 civis, apesar de os jornalistas convidados no domingo para assistir aos funerais não terem visto nenhum corpo.
O Pentágono indicou que não tinha indícios de que os bombardeios ocidentais tivessem provocado vítimas civis.
A coalizão deu sinais de desavenças internas nesta segunda-feira, quando países europeus colocaram em dúvida que a ofensiva estivesse de acordo com a resolução da ONU ou questionaram a falta de clareza sobre quem está no comando.
A Noruega indicou que suspendia a participação de seus seis caças F-16 até que se esclarecesse quem está dando as ordens.
Vários países queriam que a Otan assumisse a coordenação, e a Itália insinuou que se isso não ocorrer tomará o controle das bases aliadas em seu território.
O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Musa, que apoiou a instauração de uma zona de exclusão aérea, disse no domingo que a operação afastava-se do mandato da ONU, apesar de na segunda-feira ter voltado atrás e assegurado que suas palavras foram "mal-interpretadas".
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, explicou nesta segunda-feira no Cairo que "as fortes e decisivas medidas" foram possíveis graças ao apoio da Liga Árabe e chamou a comunidade internacional a falar "com uma só voz sobre o cumprimento da resolução".
A Alemanha considerou que as críticas da Liga Árabe confirmavam suas hesitações para se deixar envolver em uma operação no Norte da África.
A Índia pediu o fim dos bombardeios aéreos contra o país.
ONU
O Conselho de Segurança da ONU voltará a discutir a situação na Líbia em uma reunião a portas fechadas nesta segunda-feira, disse uma fonte diplomática.
O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, afirmou que a resolução 1973 da ONU lembrava os "chamados às cruzadas na época da Idade Média".
O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo da República Islâmica do Irã, afirmou que os países ocidentais buscam "apoderar-se do petróleo" líbio e assegurou mais "fracassos" dos Estados Unidos na região.
O líder cubano Fidel Castro considerou "inoportuno" uma guerra na Líbia e denunciou a OTAN. "Depois do abundante banquete, os líderes da OTAN ordenaram o ataque contra a Líbia (...). Uma guerra era o mais inoportuno que poderia ocorrer neste momento", escreveu Fidel na imprensa cubana.
Kadhafi, no poder desde 1969, enfrenta desde 15 de fevereiro uma rebelião que deixou centenas de mortos e provocou o êxodo de mais de 300.000 pessoas.
Depois dos primeiros bombardeios, o líder líbio mostrou-se desafiante e previu "uma longa guerra" no "campo de batalha" do Mediterrâneo.