Agência France-Presse
postado em 23/03/2011 14:49
SANAA - O Parlamento iemenita aprovou nesta quarta-feira (23/3) a instauração do estado de emergência, medida imediatamente rechaçada pela oposição, ao mesmo tempo em que blindados de unidades rivais eram mobilizados em Sanaa.O presidente Ali Abdullah Saleh, de 69 anos, pediu um diálogo direto com os jovens que exigem sua saída há mais de um mês, mas estes o rejeitaram e mantiveram suas manifestações no centro da capital iemenita.
A coordenação deste movimento discutia nesta quarta-feira a possibilidade de organizar na sexta uma marcha em direção ao palácio de Saleh, diante do qual os tanques da guarda presidencial tomaram posições sob o comando do filho do presidente.
Saleh, no poder há 32 anos, está cada vez mais isolado ante a onda de contestação popular, que recebeu o apoio de generais e oficiais do Exército, de líderes religiosos e de chefes tribais.
Os Estados Unidos, que viram em Saleh um aliado na guerra contra o terrorismo, estão preocupados com o impacto que as atuais manifestações poderão ter na luta contra a Al-Qaeda na península arábica.
Segundo as autoridades iemenitas, 164 deputados dos 165 presentes no Parlamento votaram a favor do estado de emergência, proclamado em 18 de março pelo chefe de Estado depois da morte de 52 manifestantes por disparos atribuídos a partidários do regime.
Mas um deputado do partido islâmico Al-Islah, Abdel Razaq al-Hejri, denunciou como uma "falsificação vergonhosa" o voto do Parlamento, afirmando que o quórum não tinha sido alcançado, com apenas 133 deputados presentes, de um total de 301.
O líder da bancada do Partido Socialista Iemenita (oposição, ex-partido único do Iêmen do Sul) Aidarus al-Naqib, afirmou à AFP que "o poder não poderá aplicar a lei de emergência, pois neste caso teria que matar dez milhões de iemenitas".
Na ausência de uma lei que esclareça o que é o estado de emergência no país, não é possível saber de imediato se esta medida significa a proibição das manifestações realizadas desde 21 de fevereiro na Praça da Universidade de Sanaa.
O partido do presidente, o Congresso Popular Geral (CPG), possuía 170 deputados, mas entre 40 e 50 deixaram seus cargos, segundo fontes parlamentares. Estes boicotaram a sessão, assim como todos os deputados da oposição e os independentes.
"Um voto a favor da lei seria o equivalente a aprovar a matança de inocentes", indicou antes um comunicado do movimento "Jovens pela mudança".
O presidente respondeu a este comunicado oferecendo um diálogo direto com os jovens, que o rejeitaram, reiterando que exigiam a sua saída imediata.
Na terça-feira, o presidente Saleh, cujo mandato expira no final de 2013, disse que deixaria o poder no começo de 2012, mas a oposição parlamentar também rejeitou essa oferta.