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Turquia, entre idas e vindas, em relação à operação internacional na Líbia

Agência France-Presse
postado em 24/03/2011 16:05
Ancara - O governo conservador muçulmano turco, que teme um cenário similar ao iraquiano na Líbia e se opõe aos bombardeios da coalizão contra o país, ingressa, enfim, na operação internacional, com o envio de uma força naval, após muita hesitação, principalmente por causa do eleitorado.

Depois de ter repetido que era radicalmente contra a qualquer intervenção estrangeira na Líbia, o Partido Governista da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, originário do movimento islâmico) finalmente passou nesta quinta-feira para o Parlamento pedido de envio de seis embarcações de guerra à Líbia, para uma missão de um ano.

A moção, que autoriza o posicionamento de unidades militares turcas no âmbito de "contribuição aos esforços internacionais para restabelecer a estabilidade e a segurança na Líbia", foi votada pelo Parlamento com o apoio dos deputados de oposição, durante uma sessão a portas fechadas.

O destacamento militar composto por cinco navios e um submarino deve, junto a uma frota de 16 embarcações da Otan, impor o funcionamento do embarco de armas às tropas de Muamar Kadhafi em virtude da resolução 1973 da ONU.

Os turcos conduziram longos e difíceis diálogos com seus aliados da Aliança Atlântica, irritando vários deles, inclusive a França.

Eles reivindicam uma estratégia militar clara na Líbia, agora que aviões da coalizão internacional, enviados pelos Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, lançam bombas sobre as forças leais ao coronel Kadhafi.

A lentidão do governo turco a se pronunciar de forma unânime - com seus responsáveis exprimindo opiniões por vezes contraditórias , desencadeou críticas principalmente da oposição.

"O ingresso da Turquia no jogo militar era inevitável, agora, por que essa hesitação e perda de tempo?", perguntou-se o analista político Semih Idiz.

O premier chegou a clamar que a Turquia "não apontaria uma arma contra o povo líbio" muçulmano, acusando a meia voz os ocidentais de querer ocupar a Líbia por causa de seu petróleo.

No poder desde 2002, Erdogan defende fervorosamente a causa da emancipação muçulmana, principalmente na Palestina.

Ele disputa as eleições legislativas de junho para um terceiro mandato, e sua atitude em relação à Líbia tem também razões eleitorais, segundo os especialistas.

"Ele precisa ser cauteloso", explicou Idiz, já que "a população turca vê a intervenção na Líbia como um novo ataque dos ocidentais contra um país muçulmano, como aconteceu no Afeganistão e no Iraque".

Antes de resolver enviar os navios de guerra - mantendo a posição contra aos ataques -, a Turquia tentou conduzir uma diplomacia discreta em relação a Muamar Kadhafi, propondo-lhe, em particular, a nomeação de um "presidente" que contasse com grande apoio popular. O coronel Kadhafi possui, na verdade, apenas o título de Guia da Revolução.

"A política de Ancara, que administrou mal a crise, é contraditória: queixou-se de todas as intervenções estrangeiras e, agora, envia uma armada à Líbia", destacou o universitário Cengiz Aktar, acrescentando que Ancara teve de "aceitar finalmente as regras do jogo" de seus aliados da Otan.

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