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Argentinos vão às ruas no aniversário de 35 anos da ditadura

Agência France-Presse
postado em 24/03/2011 17:14

Buenos Aires - Milhares de argentinos foram às ruas de Buenos Aires e outras grandes cidades do país nesta quinta-feira (24/3) para lembrar os 35 anos do último golpe de Estado, com o slogan "Memória, Verdade e Justiça", em repúdio a uma ditadura da qual 200 militares já foram condenados e outros 820 estão sendo processados.

Os organizadores de passeatas levantavam cartazes com os dizeres "30 mil presos desaparecidos, presentes", num momento em que o primeiro chefe da ditadura, o ex-general Jorge Videla, 85 anos, cumpre prisão perpétua em uma cadeia comum.

Organizações humanitárias - entre elas Mães da Praça de Maio e Avós da Praça de Maio - estimam o número de vítimas em 30 mil.

Paralelamente, orgãos do Estado afirmam que o regime produziu também centenas de milhares de exílios, demissões e proibições.

Punição

"Julgamento e castigo aos cúmplices e ideólogos civis", podia ser lido em um dos cartazes levados pela multidão, em alusão aos grupos econômicos que formavam a então Assembleia Permanente de Entidades Sindicais Empresariais (APEGE).

A APEGE foi a que pediu o fim do governo de Isabel Perón (1974-1976), derrubado em 24 de março, há 35 anos, com a ajuda - entre outras - de dezenas de entidades patronais de industriais, comerciantes e produtores rurais.

O maior ideólogo do golpe foi o economista e fazendeiro José Martínez de Hoz (designado posteriormente como ministro da Economia do regime), a quem a Justiça acusa de vinculação com sequestros cometidos naqueles anos, entre eles o de dois empresários.

O caso Martínez de Hoz voltou aos tribunais quando a Corte Suprema declarou inconstitucionais os indultos assinados entre 1989 e 1990 pelo então presidente Carlos Menem, que favoreceram centenas de ex-militares e civis, entre eles Videla e o ex-chefe da marinha, Emilio Massera.

Massera, apelidado de "O almirante zero" e máximo responsável pelo centro de torturas e extermínio da Escola de Mecânica das Forças Armadas (ESMA), morreu no ano passado no hospital, onde estava em estado vegetativo por conta de um derrame cerebral.

Na ESMA, funciona atualmente o Museu da Memória, junto com oficinas educativas e outros empreendimentos culturais.

"Desde o retorno à democracia (em 1983), 200 pessoas foram condenadas, incluindo as do Julgamento das Juntas (em 1985). Existem 820 pessoas sendo processadas em todo o país, das quais 400 já tem ao menos uma acusação em etapa de julgamento oral", segundo um informe a Procuradoria Geral.

O julgamento das juntas condenou à prisão perpétua Videla e Massera, mas as leis de anistia sancionadas durante a presidência de Raúl Alfonsín (1983-1989) e os indultos de Menem tentaram encerrar o capítulo, até que todas as causas fossem reabertas no século XXI.

Por iniciativa do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), foram derrubadas as leis de anistia sancionadas nos anos 1980, o que permitiu até agora condenar 167 ex-militares e policiais, segundo o Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS).

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