Agência France-Presse
postado em 25/03/2011 17:42
Lacey - Um pacato vilarejo de Nova Jersey, no nordeste dos Estados Unidos, esteve sob os holofotes nos últimos dias por abrigar a usina nuclear em funcionamento mais antiga do país e, segundo alguns, também a mais perigosa.Lacey, que leva o nome de um general da guerra da independência, é o tipo de vilarejo americano que poucos conheciam antes de o terremoto seguido de tsunami devastar o Japão em 11 de março e desatar uma crise nuclear.
Descendo a rua a partir de um restaurante de estilo anos 1950 e depois de atravessar uma ponte que os moradores usam para pescar, chega-se à usina nuclear de Oyster Creek.
A usina utiliza um reator GE Mark I de ebulição de água idêntico aos que perderam energia na fábrica japonesa de Fukushima quando foram atingidos pelo terremoto e, posteriormente, pelo maremoto, que danificou os reatores de apoio. O resultado foram falhas na refrigeração, que ameaçam um desastre nuclear.
Ativistas americanos contrários à energia nuclear e muitos moradores de Lacey e das regiões próximas estão preocupados com a possibilidade de um desastre semelhante ocorrer em Oyster Creek. E não é necessário um terremoto nem um tsunami para desatá-lo.
Oyster Creek foi afetada por problemas como a corrosão do recinto de confiamento que deve proteger o reator, fugas que provocaram a infiltração de tritio radioativo na água potável e uma enorme quantidade de barras de combustível utilizadas e armazenadas no local.
"Há 40 anos há radiação no local, entre duas vezes e meia e três vezes mais que a do Japão", disse à AFP Jeff Brown, um militante antinuclear.
Além disso, a central foi "desenhada de uma forma tremendamente estúpida, começando pelo fato de que as barras de combustível gastas são armazenadas em cima do reator", explicou.
Os residentes temem que a central nuclear seja alvo fácil de um ataque terrorista. "Em última instância, precisamos de uma zona de exclusão aérea sobre Oyster Creek. Há uma zona de exclusão aérea sobre a Disney World e não aqui", disse Peggi Sturmfels, da Federação de Nova Jersey para o Meio Ambiente.
A usina pertence à empresa Exelon Corporation, que também a explora, e tem 700 funcionários. A companhia nega as acusações dos ativistas e insiste que o reator é seguro.
"As centrais nucleares em geral são as instalações industriais mais bem protegidas. Oyster Creek não é exceção", disse à AFP o porta-voz da Exelon, Craig Nesbitt.
Além disso, a empresa investiu mais de 1 bilhão de dólares em atualizações da central, desde que esta começou a operar em 1969, explicou.
Cerca de meio milhão de pessoas vivem na região que deve ser evacuada em caso de acidente ou de ataque terrorista contra a central, um número que aumenta no verão, quando os turistas se aglomeram nas praias de Nova Jersey.
Lacey está a 137 km ao sul de Nova York e a 88 km a leste da Filadélfia, em uma região onde os furacões não são um fenômeno excepcional.
Isso não impediu que a agência reguladora de energia nuclear dos Estados Unidos (NRC, da sigla em inglês) prolongasse em 2009 a licença de exploração da central: agora está previsto que o fechamento ocorrerá em 2019.
É muito tempo, segundo os moradores. "Não gosto disso. Deveria fechar antes", disse à AFP a aposentada Barbara Murrofsky.
"Ao ver o que está acontecendo no Japão, ficamos mais conscientes dos problemas que temos em nosso próprio jardim", disse.
Mas outros moradores, como Rick Gifford, são mais otimistas em relação a Oyster Creek. "Funcionou por 40 anos sem problemas, não há motivo para que comece a ter problemas agora", disse.
Nos Estados Unidos, há 23 usinas nucleares em funcionamento, como a de Oyster Creek. A NRC lançou uma investigação na quarta-feira, a pedido do presidente Barack Obama, sobre a segurança das instalações nucleares, e prometeu um relatório completo com recomendações que deve sair em seis meses.