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Rebelião na Líbia recupera Ajdabiya e coalizão aumenta pressão militar

Agência France-Presse
postado em 26/03/2011 13:15
A estratégica cidade petroleira de Ajdabiya, no leste da Líbia, foi reconquistada na manhã deste sábado (26/3) pelos rebeldes, uma semana após o início da intervenção militar da coalizão internacional aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU para impedir que as forças leais ao ditador Muamar Kadhafi continuem massacrando a população.

As posições das tropas do regime, atacadas na sexta-feira por bombardeios aéreos, estavam desertas. Agora, são ocupadas apenas por tanques e caminhões carbonizados ou partidos ao meio, carros e caminhonetes reduzidos a montes de cinzas, além de restos de projéteis de grosso calibre. Os soldados fugiram para oeste, pela estrada costeira.

Na praça, sob as árvores, jazem os corpos de dois soldados africanos, que segundo os insurgentes seriam mercenários contratados pelo regime líbio. Uma multidão rapidamente se formou em torno deles, alguns tentavam chutá-los e cutucá-los com pedaços de pau, mas alguém lembrou a todos que "eles também são muçulmanos".

Os soldados mortos foram então carregados em uma caminhonete e levados até o hospital da cidade. No hospital, cuja sala de cirurgia funciona há dez dias com apenas um gerador, o médico Ahmad El Ganahi disse à AFP que os combates da véspera deixaram "três feridos civis". "Não houve mortos do lado dos insurgentes, e quanto aos homens de Kadhafi, não resta dúvida de que levaram seus mortos consigo", estimou.

Cerca de 15 pessoas com ferimentos leves estão internadas no centro médico. "Precisamos enviar os feridos mais graves para Benghazi, pelas estradas do deserto", explicou Ganahi.

As forças de Kadhafi haviam conseguido retomar Ajdabiya na semana passada, durante sua ofensiva contra a rebelião, que já dominava o leste do país há um mês, antes de atacar Benghazi. Mas a intervenção militar da coalizão internacional, lançada em 19 de março, freou seu avanço. Ajdabiya é a primeira cidade a voltar para as mãos dos rebeldes desde o início da intervenção militar. "Os confrontos foram incessantes na sexta-feira, e tudo se acalmou por volta das 23H30 (18H30 de Brasília). E, à meia-noite, os homens de Kadhafi foram embora", contou Omar Bashi, morador da cidade.

"Os rebeldes entraram pouco depois e nos disseram que os combates tinham terminado. Já era hora, tínhamos apenas arroz para comer há vários dias", disse Bashi. Salim Ali, acompanhado do filho Anas, de 8 anos, disse ser a primeira vez em seis dias que consegue sair de casa. "Ouvíamos os combates ao nosso redor, permanecíamos dentro de casa, tentando sobreviver apenas com a graça de Deus", indicou.

Pelas ruas de Ajdabiya, rebeldes comemoravam com as buzinas de seus carros e fazendo o "V" da vitória. Segundo Chamsiddin Adbulmollah, porta-voz dos insurgentes líbios, as tropas leais a Kadhafi estão agora na defensiva e são perseguidos por rebeldes de Adjabiya. "Ajdabiya está 100% sob o controle de nossas forças, e estamos perseguindo as forças de Kadhafi na estrada para Brega, 75 quilômetros a oeste", declarou Adbulmollah em Benghazi, bastião do movimento. "As forças de Kadhafi estão na defensiva, já que não têm mais força aérea nem armas pesadas", destacou.

O vice-ministro líbio das Relações Exteriores, Khaled Kaaim, confirmou que as forças leais a Kadhafi haviam se retirado da cidade. "As forças armadas líbias decidiram sair de Ajdabiya esta manhã. É uma retirada. Nossas forças voltarão", disse Kaaim. Um outro porta-voz dos rebeldes, Ahmed Jalifa, indicou que nove civis morreram e outras nove pessoas ficaram feridas nos combates de Ajdabiya.

Os corpos de pelo menos 21 combatentes das forças de Kadhafi foram recolhidos no deserto após os ataques da coalizão, segundo uma fonte médica. Abdulmollah destacou que os bombardeios "prepararam o campo de batalha" para os rebeldes, e afirmou que os oficiais e soldados mais experientes, que desertaram de seus postos nas forças armadas do ditador, tiveram na quinta-feira um papel importante no cerco a Ajdabiya.

Estes militares coordenaram seus ataques com a coalizão, a partir do momento em que os bombardeios entraram em ação. Os Estados Unidos anunciaram ter lançado 16 mísseis Tomahawk contra alvos líbios nas últimas 24 horas. Os aviões da coalizão internacional já contam 153 incursões pelos céus da Líbia: 67 com caças americanos e 86 com caças dos outros países participantes, como França, Reino Unido, Itália, Canadá, Espanha, Bélgica, Dinamarca e Qatar.

Segundo o vice-almirante americano Bill Gortney, "Kadhafi já quase não tem mais dispositivos antiaéreos". "Sua aviação não pode voar, seus navios estão no porto, seus depósitos de munição continuam sendo destruídos, as torres de comunicação caíram e seus bunkers de comando estão inutilizáveis", acrescentou.

O regime líbio declarou na sexta-feira que está disposto a aceitar um plano de negociações, estimulado pela União Africana (UA), que propõe um cessar-fogo e o início do diálogo entre os líbios para alcançar uma transição democrática.

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