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Regime sírio impotente ante protestos, que causam novas mortes

Agência France-Presse
postado em 26/03/2011 18:01
Damasco - Homens armados atacaram duas pessoas neste sábado em Latakia, noroeste de Damasco, no 12; dia de um movimento de protestos sem precedentes contra o regime sírio, que se mostra impotente ante uma revolta que se espalha por todo o país.

"Franco-atiradores dispararam contra transeuntes em Latakia, mataram duas pessoas e feriram outras duas", afirmou à AFP um dirigente sírio que não quis ser identificado.

Um grupo de opositores também incendiou uma delegacia de polícia e uma sede do Partido Baath, no poder, no sul do país.

O governo sírio libertou mais de 250 presos políticos na noite de sexta-feira, após um dia de massivas manifestações por todo o país, que as medidas anunciadas pelo regime do presidente Bashar Al Assad e sangrenta ação das forças armadas não conseguiram acalmar.

Apesar das concessões do governo e da repressão, um novo chamado à "revolta popular" em todas as províncias sírias circulou neste sábado pela rede social Facebook.

"Hoje, sábado, uma revolta popular em todas as província sírias", convocava o texto, acompanhado por uma popular expressão árabe usada pelos insurgentes sírios na luta contra os colonizadores franceses.

Segundo um ativista pró-direitos humanos presente no local, milhares de cidadãos participaram no enterro de três manifestantes que morreram na véspera vítimas da repressão policial e alguns dos participantes incendiaram dois prédios.

Em Deraa, epicentro dos protestos antigovernamentais que começaram em 15 de março, cerca de 300 jovens, com o torso nu, subiram nos restos da estátua do ex-presidente Hafez al Assad, pai do atual presidente, que foi derrubada na véspera, e gritaram slogans contra o regime, segundo testemunhas.

Imagens de tv também mostraram manifestantes rasgando retratos do presidente Bashar al-Assad.

A fonte síria informou que 10 opositores morreram em Sanamein (sul), enquanto que, em Homs (norte de Damasco), Latakia (noroeste da capital) e em Maadamie (a 10 km de Damasco), os manifestantes mataram o segurança e um clube militar, dois civis e dois bombeiros.

Nesta atmosfera de revolta, "as autoridades libertaram 260 presos, a grande maioria islamitas, além de 14 curdos, em um gesto que faz parte das promessas anunciadas recentemente para melhorar as liberdades públicas na Síria", declarou à AFP Abdel Karem Rihaui, presidente da Liga Síria de Defesa dos Direitos Humanos em Damasco.

Rihaui pediu ao governo que "complete esta medida, libertando os outros presos políticos que permanecem atrás das grades".

A maioria dos prisioneiros libertados já cumpriram pelo menos um terço de sua pena.

Rami Abdelrahmane, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, sediado em Londres, explicou por telefone que "as autoridades sírias soltaram na sexta à noite mais de 200 pessoas da prisão de Sednaya, a grande maioria islamitas, depois de terem assinado um pedido de libertação".

O diretor do Observatório indicou que a informação foi transmitida por Sirine Juri, advogada síria e ativista dos direitos humanos.

Abdelrahmane lamentou que muitas das pessoas detidas pelos serviços de segurança nas recentes manifestações contra o regime de Al Assad continuem presas.

Uma delas é a estudante e blogueira Ahmad Khadifi, detida em 23 de março.

Treze pessoas, entre elas dois bombeiros e um funcionário público, foram mortas quando participavam dos protestos de sexta-feira. As autoridades acusam os manifestantes pelas mortes.

Fontes próximas aos protestos, entretanto, falam em até 25 vítimas fatais da repressão policial.

O movimento, que começou na cidade de Deraa - onde desde 18 de março já são contado dezenas de mortos, se ampliou até Sanamein, Daael, Damasco, Duma, Banias e Hama - palco, em 1982, de uma rebelião da Irmandade Muçulmana duramente reprimida.

Uma estimativa da organização Anistia Internacional indica que 55 pessoas morreram em uma semana apenas na província de Daraa, no sul, uma área tribal na fronteira com a Jordânia.

Na quinta-feira, as autoridades sírias prometeram estudar a anulação do estado de emergência, instaurado em 1963, além de implantar medidas de combate à corrupção e libertar opositores. Um aumento dos salários dos funcionários também foi oferecido pelo regime autoritário, no poder há 40 anos, que tenta a todo custo conter a revolta.

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