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Insurgentes da Líbia tomam Ras Lanuf e Ben Jawad e exportarão petróleo

Agência France-Presse
postado em 27/03/2011 13:52
Os insurgentes líbios, que neste domingo reconquistaram o porto petroleiro de Ras Lanuf e a localidade de Ben Jawad, no leste do país, continuam sua contra-ofensiva rumo a Sirte, cidade natal do ditador Muamar Kadhafi, e anunciaram que pretendem retomar as exportações de petróleo em breve.

Os campos petrolíferos nestas regiões produzem entre 100.000 e 130.000 barris por dia, afirmou neste domingo um porta-voz da insurreição, indicando que a oposição planeja retomar as exportações em menos de uma semana. "Produzimos de 100.000 a 130.000 barris por dia e podemos facilmente aumentar este ritmo até 300.000 barris por dia", declarou Ali Tarhoni, representante dos rebeldes encarregado de questões econômicas, financeiras e petroleiras, durante entrevista coletiva em Benghazi.

De acordo com Tarhoni, o órgão político que representa os rebeldes assinou um acordo com o Qatar que delega ao emirado a comercialização do cru. As exportações devem ser reiniciadas "em menos de uma semana", destacou o porta-voz.

Ben Jawad, posição mais avançada dos rebeldes na primeira ofensiva em direção ao oeste da Líbia, no começo de março, havia sido retomada pelas forças leais a Kadhafi. Nos últimos três dias, as forças insurgentes conquistaram sucessivamente as cidades de Ajdabiya, ponto estratégico a 160 km de Benghazi, Brega, Ras Lanuf e Ben Jawad. As tropas de Kadhafi haviam expulsado os rebeldes de Ras Lanuf no dia 12 de março.

A refinaria fica 370 quilômetros a oeste de Benghazi, bastião da rebelião no leste, e a 210 quilômetros de Ajdabiya, cidade estratégica controlada pelos insurgentes desde sábado. Ao longo da estrada, perto da refinaria de petróleo, é possível ver os rastros dos confrontos: munições abandonadas e construções parcialmente destruídas. Os insurgentes tomaram em seguida a localidade de Ben Jawad, 30 km a oeste de Ras Lanuf.

As forças de Kadhafi continuam recuando em direção a Sirte, que fica 200 km a oeste. Segundo um habitante de Sirte, a cidade foi bombardeada durante toda a noite pela coalizão internacional, provocando danos consideráveis. "A cidade se transformou em uma bola de fogo", contou, indicando que a maioria dos moradores, apavorados, fugiu para o deserto. A coalizão também realizou intensos bombardeios no sábado contra as forças de Kadhafi ao longo dos 400 km da estrada que liga Ajdabiya a Sirte.

Os ataques aéreos continuaram em ritmo intenso no sábado, com 160 missões - sete a mais do que na véspera, segundo o Pentágono. A Otan, que se prepara para assumir o comando de todas as operações militares na Líbia, quer limitar estritamente os ataques à proteção de civis em zonas habitadas, segundo diplomatas que conversaram com a AFP neste domingo.

O plano elaborado pela Otan não prevê uma intervenção com o objetivo de apoiar os insurgentes que combatem as forças de Kadhafi, explicaram os diplomatas, que pediram o anonimato, destacando que a prioridade da Aliança Atlântica é manter-se "imparcial" no conflito. "A Otan permanecerá sempre imparcial. A Otan não escolhe um lado. O objetivo é deter qualquer ameaça à população, de acordo com a resolução 1973 da ONU", indicou.

No sábado, o porta-voz do regime líbio, Musa Ibrahim, declarou que "os ataques aéreos continuaram durante horas e horas, sem parar, na estrada costeira de Ajdabiya-Sirte, de 400 km". "Estimamos que vários civis tenham morrido, inclusive famílias que fugiam de carro dos bombardeios", acrescentou, pedindo o "fim urgente e imediato dos bombardeios aéreos, assim como uma reunião urgente do Conselho de Segurança" da ONU para discutir a situação.

Mais a oeste, Misrata, terceira maior cidade do país e ponto estratégico entre Trípoli e Sirte, continua submetida desde sábado a um "intenso bombardeio" das forças de Kadhafi, segundo um porta-voz dos rebeldes. Um médico de Misrata declarou à AFP que 117 pessoas morreram desde 18 de março na cidade, tomada pelos rebeldes e cercada pelas tropas do ditador.

No plano político, o ministro das Relações Exteriores italiano, Franco Frattini, propôs em uma entrevista publicada neste domingo no jornal La Republica uma solução para a crise líbia que prevê o exílio de Kadhafi. "Agora que toda a Europa e as Nações Unidas concluíram que o coronel não é um interlocutor aceitável, não podemos defender uma solução na qual (Kadhafi) permaneça no poder", estimou Frattini. O ministro italiano indicou que apresentaria seu plano na terça-feira em Londres, durante uma reunião para discutir a intervenção na Líbia, para a qual já confirmaram presença 35 países. "Temos um plano e queremos ver se ele poderia se transformar em uma proposta ítalo-alemã. É provável que na terça-feira tenhamos um documento para colocar sobre a mesa", concluiu.

Para Hillary Clinton e Robert Gates, secretários de Estado e Defesa dos Estados Unidos, os diplomatas e militares começaram a desertar o regime de Kadhafi após a intervenção da coalizão internacional. "Há muitos diplomatas e chefes militares na Líbia que estão saindo, que estão mudando de lado, que estão desertando, porque já viram como isto vai terminar", disse Hillary, em entrevista ao programa ;Face the Nation;, da rede CBS. "Não subestime a possibilidade de que elementos do regime se quebrem e abandonem o líder líbio", advertiu Gates, que também participou do programa.

Londres, por sua vez, declarou neste domingo que a coalizão internacional não armará os rebeldes. "Não estamos armando os rebeldes e não planejamos fazê-lo", disse neste domingo o ministro britânico da Defesa, Liam Fox, em entrevista à rede BBC. Fox argumentou que fornecer armas à rebelião seria um descumprimento do embargo imposto pela ONU. "Temos que respeitar isto", afirmou.

Citando fontes da defesa, o jornal britânico Sunday Times publicou neste domingo que os aliados planejam armar os rebeldes para acelerar a queda de Kadhafi. O ministro britânico explicou que os recentes avanços das tropas rebeldes provocará "uma dinâmica muito diferente e um equilíbrio muito diferente no interior da Líbia". "Vamos ver como isto afetará a opinião pública e o regime de Kadhafi", concluiu.

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