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Presidente do Iêmen diz se deixar o cargo, o caos pode se instalar no país

Agência France-Presse
postado em 27/03/2011 18:10

Dubai - O presidente iemenita Ali Abdallah Saleh afirmou neste estar disposto a deixar o cargo, mas apresentou-se como última barreira contra o caos social e a divisão do país em entrevista concedida à rede de televisão Al Arabiya, exibida na madrugada de domingo.

"Estamos dizendo a eles, venham, vamos discutir juntos uma solução de maneira tranquila, que consista em transferir o poder pacificamente", declarou Saleh. "Não nos agarramos ao poder, mas não podemos entregá-lo a qualquer um", afirmou ainda presidente, referindo-se à oposição, que exige sua renúncia imediata.

O presidente iemenita parece enviar sinais confusos, uma vez que, no sábado, reiterou sua intenção de não abandonar o poder, quase dois meses após o início de uma revolta popular que exige com insistência sua renúncia. "Ainda estamos aqui, sólidos como uma rocha, e não nos farão tremer com os acontecimentos", declarou Saleh diante de membros de seu partido, sem mostrar nenhum sinal de que pretende jogar a toalha e deixar o cargo que ocupa há 32 anos.

"Nosso povo superou muitos obstáculos no passado, e sairá mais forte desta provação", acrescentou Saleh, que na semana passada amargou a deserção de militares, religiosos e clãs tribais, que decidiram passar para o lado dos manifestantes. Saleh acusou os radicais islâmicos e a oposição parlamentar de terem provocado a escassez de gás e combustível no país "ao bloquear as estradas", atribuindo a eles também os problemas eletricidade.

O Congresso Popular Geral (CPG) do presidente Saleh afirmou que sua saída é "inaceitável". O CPG também acusou a organização islamita Al Islah de instigar os protestos. Por outro lado, um alto oficial do exército iemenita, o general dissidente Ali Mohsen al-Ahmar, prometeu que vai fazer de tudo tirar o presidente Saleh do poder, conforme reclama o movimento de protesto.

Em um comunicado lido por seu porta-voz, o general Ahmar promete ajudar na revolta pacífica do povo iemenita por todos os meios e ao preço que tiver que pagar. "O exército iemenita está ao lado da revolta do povo", garante o militar dissidente, comandante da região nordeste e da primeira divisão blindada.

Uma tentativa de reconciliação entre Saleh e o general Ahmar fracassou na semana passada. Para complicar ainda mais a situação, supostos militantes da al-Qaeda assumiram o controle de Jaar, uma cidade da província sulista de Abyan. A batalha por Jaar deixou pelo menos um soldado morto e um militante seriamente ferido, segundo fontes militares.

"Jaar e cidades dos arredores caíram em mãos da Al-Qaeda", afirmou um oficial que não quis ser identificado. Além disso, seis soldados iemenitas morreram e outras quatro pessoas ficaram feridas em um ataque da rede terrorista Al-Qaeda na província de Marib, a leste da capital Sanaa

De acordo com as fontes tribais, o ataque foi coordenado por Aaed al Shabwani, um dos principais líderes locais da Al-Qaeda. O secretário americano da Defesa, Robert Gates, comentou a situação explosiva no Iêmen e o isolamento do presidente Saleh.

"Se o governo cair ou for substituído por um governo muito mais fraco, então enfrentaremos ainda mais desafios no Iêmen, não resta dúvida. É um verdadeiro problema", estimou.

"O braço mais ativo e talvez mais agressivo da Al-Qaeda, a Al-Qaeda na Península Arábica, atua no Iêmen e nós temos uma cooperação antiterrorista com o presidente Saleh e os serviços de segurança iemenitas", ressaltou.

A CIA e o exército americano têm mobilizados no Iêmen dezenas de agentes há 18 meses para ajudar o exército iemenita a combater a Al-Qaeda na Península Arábica - que estaria planejando um novo atentado, segundo publicou o jornal Washington Post, citando altos funcionários do governo americano. Saleh sempre se apresentou como um símbolo de estabilidade e contenção da ação terrorista na Península Arábica.

No entanto, um líder da oposição, o general reformado Ali Muhammed al-Saadi, acusa Saleh de ajudar a espalhar a influência da Al-Qaeda no sul do país para convencer seus aliados de sua importância para conter essa ameaça. "Ele ordenou a certas unidades militares na província de Abyan que entregassem suas armas a elementos da Al-Qaeda sob seu controle", escreveu Saadi em um comunicado.

Segundo o oposicionista, Saleh quer fazer crer à comunidade internacional que, se ele cair, a Al-Qaeda vai assumir o governo.

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