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Chanceleres de 40 países se reúnem para debater futuro da Líbia

postado em 29/03/2011 07:00
Se depender da coalizão internacional e dos rebeldes líbios, o ditador Muamar Kadafi está com os dias contados. Enquanto os insurgentes conquistam importantes posições no front, no campo diplomático os países envolvidos na guerra contra o ditador começam a planejar a transição política em Trípoli. Denis McDonough, conselheiro adjunto de segurança nacional da Casa Branca, afirmou que uma reunião marcada para hoje, em Londres, definirá a situação da Líbia quando o coronel deixar o poder. ;Acreditamos que seja muito importante definir um objetivo, uma visão de futuro;, explicou McDonough. ;Não vamos liderar a reunião, que será dirigida pelo Reino Unido, mas esperamos que se definam o objetivo político final e aquela meta que os líbios podem esperar.;

Mais cedo, o premiê britânico, David Cameron, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, deram uma prévia do que será debatido durante o encontro, que contará com a participação de ministros das Relações Exteriores de 40 países. ;O regime atual perdeu toda a legitimidade. Kadafi deve partir imediatamente;, advertiram os dois governantes. Em discurso na noite de ontem, o presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou que a coalizão evitou uma ;catástrofe humanitária; na Líbia.

Confiantes com as retomadas de cidades-chave ; como Bin Jawad, Brega e o porto petrolífero de Ras Lanuf ;, os insurgentes já se preparam para o futuro. Em entrevista à TV France 2, Mustafá Abdeljalil, presidente do Conselho Nacional Transitório (CNT), afirmou que Kadafi será julgado na Líbia pelos próprios rebeldes, ;após a vitória;. ;Precisamos com urgência de armas leves, porque o combate nos impõe;, declarou o ex-ministro da Justiça, em um local secreto na região de Benghazi (leste). ;Tentaremos construir um país livre, democrático, que respeita os direitos humanos e a alternância política;, acrescentou Abdeljalil.

Por e-mail, o tunisiano Jabeur Fathally, professor de direito da Universidade de Ottawa (Canadá), admitiu ao Correio que a situação de Kadafi é complicada. ;Suas forças perderam boa parte das capacidades operacionais e logísticas. Agora, o coronel tenta manter suas tropas na região da capital;, disse. O especialista reconhece que o avanço dos rebeldes no leste da Líbia é o resultado dos ataques da coalizão. ;Kadafi não tem poder para mover suas tropas a outras cidades sem a ajuda da aviação, praticamente destruída pelos bombardeios;, comentou. Fathally também garante que os líbios e o Ocidente gostariam de colocar um fim rápido à guerra civil e, para isso, ainda buscam um acordo para que o ditador recorra ao exílio no Catar.

O historiador palestino-americano Rashid Ismail Khalidi, professor de estudos árabes da Columbia University (em Nova York), demonstra reticência em relação a um triunfo das forças de oposição. ;Os relatos que tenho visto não indicam um alto grau de organização, de treinamento ou de competência (dos rebeldes). Os testes serão se eles podem tomar Sirte e levantar o cerco a Misrata, antes que a cidade seja destruída ou reocupada pelas forças de Kadafi. Depois, será preciso ver até que ponto a base de apoio ao ditador em Trípoli vai se desmoronar;, analisa. De acordo com Khalidi, os insurgentes estão longe de derrotar as tropas do coronel e de derubá-lo, mais ainda de levá-lo a julgamento. Ele sustenta que a ideia de uma solução negociada apoiada pela Turquia ; que incluiria a renúncia e a fuga de Kadafi ; incidiria em menos mortes, mas em impunidade.

Bombas
Enquanto um acordo político começa a ser costurado nos bastidores, os Estados Unidos intensificam novos meios de ataque, destinados especificamente às forças terrestres de Kadafi. ;Utilizamos aparelhos A-10 e AC-130 no fim de semana;, admitiu o vice-almirante Bill Gortney, diretor do Estado-Maior Conjunto dos EUA. O A-10 visa destruir carros e blindados a curta distância. O AC-130 é um avião de transporte adaptado para o combate com canhões de 105mm.

Na noite de ontem, a coalizão alvejou posições leais ao ditador líbio nas regiões de Mezda (centro), Gharyan (oeste) e em Tajura, um subúrbio de Trípoli. Um morador de Gharyan, a 120km da capital, contou à agência France-Presse que uma forte explosão sacudiu a cidade às 20h15 (15h15 em Brasília). Um depósito de armas e de munições teria sido atacado. Gharyan e Mezda são bases de retaguarda das tropas de Kadafi em suas incursões contra as cidades de Zenten e Yefren (oeste), controladas pelos insurgentes. O líder rebelde Abdel Fateh Younes anunciou à TV Al-Arabyia que seus homens conquistariam Sirte, cidade natal de Kadafi, ;em questão de horas;.

Otan assumirá o controle amanhã
Os bombardeios na Líbia permanecerão sob controle da coalizão internacional até amanhã e, depois do prazo, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) assumirá o comando efetivo das operações, informou a aliança ocidental. ;A transição será progressiva e levará dois dias;, declarou ontem a porta-voz da Otan, Oana Lingescu. Os 28 países da Otan decidiram no domingo assumir o comando da operação militar na Líbia, que era dirigida pelos Estados Unidos desde 19 de março. A aliança também assumiu o controle do embargo naval para evitar o tráfico de armas e o envio de mercenários à Líbia.

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