Agência France-Presse
postado em 29/03/2011 19:40
Buenos Aires - Uma decisão da Faculdade de Jornalismo da estatal ;Universidad de La Plata; (UNLP) de conceder ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o prêmio Rodolfo Walsh de comunicação popular foi motivo de muita polêmica na Argentina.Florencia Saintout, decana da Faculdade de Jornalismo e Ciências da Comunicação da UNLP, justificou a escolha de Chávez ao sustentar que não se trata apenas de "um reconhecimento à trajetória e luta pela identidade dos povos da América, mas à luta de todo o povo venezuelano".
A decisão não obteve apoio do reitor da UNLP, Fernando Tauber, pertencente à opositora União Cívica Radical (UCR, social-democrata).
A senadora e ex-jornalista Norma Morandini, da opositora Frente Cívica e membro da comissão de Sistemas, Meios de Comunicação e Liberdade de Expressão do Senado, criticou a concessão do prêmio, em declarações à AFP.
Estão "consagrando o desprezo pela imprensa" afirmou, questionando a decisão, "por mais populares ou queridos que sejam os presidentes".
Rodolfo Walsh foi um jornalista e escritor, um dos fundadores da agência oficial cubana de notícias Prensa Latina, detido e desaparecido durante a ditadura (1976-1983).
Desde 1997, a Faculdade distinguiu com o prêmio o escritor uruguaio Eduardo Galeano, e os jornalistas Rogelio García Lupo, Jorge Lanata, Tomás Eloy Martínez, Ignacio Ramonet e Joaquín Morales Solá.
Norma Morandi destacou que "como jornalista, Rodolfo Walsh, questionou o poder, pelo que não deveriam conceder um prêmio a alguém que pertença ao poder. Chávez é o segundo presidente latino-americano a ser escolhido. Em 2009 foi a vez do presidente da Bolívia, Evo Morales.
Chávez pôs "em marcha um meio de comunicação, a Telesur, uma empresa integrada por Venezuela, Argentina, Cuba, Uruguai, Bolívia, Equador e Nicarágua", disse Florencia Saintout, doutora em Ciências Sociais.
Em declarações à imprensa no início da visita a Buenos Aires, Chávez se manifestou honrado pelo reconhecimento e rejeitou os questionamentos.
"Já começaram: o ditador Chávez não merece. Chávez fechou não sei quantos jornais, não sei quantos meios. Tudo mentira. Não foi fechado um só meio de comunicação na Venezuela", ironizou na Casa Rosada (governo), antes de um encontro com a presidente Cristina Kirchner.
Em 2007, o governo Chávez revogou a concessão dada ao emblemático canal de televisão RCTV, com linha editorial fortemente de oposição - a única com essa orientação que transmitia em canal aberto para todo o país, motivando uma onda de protestos dentro e fora da Venezuela.
Rebatizado RCTV Internacional, o canal de televisão continuou transmitindo como TV a cabo.
Mas, em 2010, o governo considerou que se tratava de uma rede nacional e, portanto, obrigada a divulgar os frequentes discursos do presidente em cadeia de rádio e televisão. A RCTV Internacional viu-se, então, obrigada a sair do ar, junto com outros quatro canais em situação semelhante.
Chávez afirmou que na Venezuela "rege plena liberdade de crítica, plena liberdade de pensamento, plena liberdade de expressão, só que a burguesia gosta de impor a própria voz, não gosta de ouvir a voz dos povos".
A cidade de La Plata, a 60 Km ao sul de Buenos Aires, onde nasceu Cristina Kirchner, foi duramente castigada pela repressão, com milhares de desaparecidos.