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Coalizão só suspende ataques se Kadafi deixar o poder

Chanceleres de 40 países integrantes da coalizão internacional decidem em Londres que bombardeios só vão parar quando o ditador abandonar o poder. Rebeldes perdem posições para as forças do regime. Especialistas não veem violação da resolução da ONU

postado em 30/03/2011 07:05

A reunião entre os chanceleres de 40 países envolvidos na intervenção militar contra Muamar Kadafi terminou em Londres com um consenso: as bombas cairão sobre o país até que o ditador abandone o poder e a Líbia. ;Temos feito um esforço realmente internacional, a favor do bem-estar da cidadania líbia e de suas aspirações diplomáticas legítimas. Esta ação militar continuará até que Kadafi cumpra com os requisitos da Resolução n; 1.973 da Organização das Nações Unidas (ONU) e deixe de atentar contra seu povo;, declarou a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton. ;Todos nós devemos continuar a aumentar a pressão e a aprofundar o isolamento do regime com outros meios. E eles incluem uma frente de unidade de pressão político-diplomática para deixar claro a Kadafi que ele deve partir;, acrescentou.

Ban Ki-moon (E) e a secretária Hillary Clinton (D): unidos contra KadafiNa mesma linha, o colega francês, Alain Juppé, avisou: ;Kadafi não tem futuro na Líbia;. Além dos ministros das Relações Exteriores ; incluindo de países árabes, como Marrocos, Tunísia e Emirados Árabes Unidos ;, participaram do encontro os secretários-gerais da ONU e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e representantes da Liga Árabe, da Conferência Islâmica e da União Africana.

Ao fim da conferência, ficou decidida a formação de um ;grupo de contato; internacional , que se reunirá pela primeira vez no Catar, ainda em data a definir, e terá a incumbência de manter diálogo permanente com o Conselho Nacional Transitório (CNT), o principal órgão da oposição na Líbia. A coalizão reconhece que os rebeldes líbios manterão sua batalha contra Kadafi, mesmo por conta própria. Pela primeira vez, a Otan admitiu que integrantes da rede terrorista Al-Qaeda e da milícia libanesa Hezbollah participam das fileiras insurgentes na Líbia. ;Estamos examinando com muita atenção o conteúdo (das informações de inteligência), a composição (das forças rebeldes), as personalidades, quem são os líderes;, disse o almirante James Stavridis, comandante supremo da aliança ocidental para a Europa. ;Não tenho detalhes para dizer que há uma presença significativa da Al-Qaeda.;

Também durante a reunião em Londres, Chamsiddine Abdulmoula, porta-voz do CNT, exibiu uma carta de compromissos para o caso de o coronel líbio ser destituído. Entre as promessas estão o inegociável julgamento do ditador e a convocação de eleições livres. O novo ultimato a Kadafi levantou um debate sobre os propósitos da operação militar. A Resolução n; 1.973 autoriza ;todas as medidas necessárias para proteger os civis sob ameaça de ataque na Líbia;. Em entrevista ao Correio, o tunisiano Radwan Masmoudi ; presidente do Centro para o Estudo do Islã e da Democracia (em Washington) ; descarta que a guerra represente uma violação do texto da ONU. ;Kadafi deixou claro que não se importa com os civis e ordenou que suas brigadas e mercenários atirem contra qualquer pessoa;, afirma o especialista. ;Ele é um criminoso, perdeu a legitimidade e deve deixar a Líbia logo;, acrescenta. Até que isso ocorra, Masmoudi crê que o mundo tem a obrigação de proteger os líbios.

Desconforto
Vice-diretor do Programa para a África do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (ISS), o norte-americano Richard Downie explica que a decisão de tonar a partida de Kadafi uma condição para o fim dos bombardeios denota o desconforto dos aliados em relação à intervenção. ;A coalizão sabe que, caso os rebeldes sejam abandonados, o único cenário possível será a divisão da Líbia entre forças pró e anti-Kadafi. Para evitar isso, ela prosseguirá com os bombardeios até que o ditador renuncie;, opina à reportagem. Downie diz que a Resolução n; 1.973 é bastante ampla em interpretação. ;Cada membro da coalizão analisará o texto de forma diferente. Aqueles que adotarem uma definição mais expandida verão uma justificativa para remover o coronel líbio;, emenda.

As tropas de Kadafi reconquistaram posições perdidas nos últimos dias e mantêm o cerco sangrento a Misrata, 211km a leste de Trípoli. Um médico da cidade contou à agência France-Presse que 142 pessoas foram mortas e 1,4 mil ficaram feridas desde 18 de março. Os insurgentes perderam o controle de Bin Jawad, um polo petrolífero, e viram dificultado o avanço sobre Sirte, cidade natal de Kadafi, a 160km. A coalizão intensificou o assédio sobre a capital ; nove explosões sacudiram Trípoli, sete delas perto da residência do ditador.


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