Mundo

Assad não anuncia fim do estado de emergência

Agência France-Presse
postado em 30/03/2011 11:27

Damasco - O presidente sírio Bashar al-Assad discursou publicamente nesta quarta-feira pela primeira vez desde o início do movimento de contestação em seu país, sem anunciar a retirada do estado de emergência, uma medida altamente simbólica que somente ele tem o poder de tomar.
Assad disse que a Síria enfrenta uma
O pronunciamento, no Parlamento, foi transmitido pela televisão, em meio à expectativa de anúncios sobre o fim do estado de emergência em vigor há quase meio século e de novas leis sobre imprensa e pluralismo político.

Mas o presidente sírio, que pareceu estar relaxado ante a plateia, não se comprometeu com a realização de reformas para acalmar as manifestações sem precedentes, desde sua chegada ao poder em 2000. "Somos totalmente favoráveis a reformas. É o dever do Estado. Mas nós não somos a favor de divergências", continuou, afirmando que a luta contra a corrupção e o desemprego era uma prioridade do próximo governo.

O gabinete, dirigido desde 2003 pelo primeiro-ministro Mohammad Naji Otri, renunciou na terça-feira e a imprensa síria deixou evidente sua preferência por um governo tecnocrata, a fim de conduzir da melhor maneira possível as reformas. Mas o líder sírio não anunciou nesta quarta-feira qualquer medida de liberalização do regime, cuja iminência havia sido anunciada por seus próximos.

Sua principal conselheira, Boussaina Chaabane, havia dito no domingo que a decisão de revogar o estado de emergência já havia sido tomada pelas autoridades sírias. Em vigor desde a tomada de poder pelo partido Baath em 1963, o estado de emergência reduz sensivelmente as liberdades públicas. Ele impõe restrições sobre a liberdade de reunião e de deslocamento, e permite a prisão de "suspeitos ou pessoas que ameacem a segurança". Autoriza também o monitoramento das comunicações e o controle prévio das mídias.

Apesar da revogação da lei de emergência que data de dezembro de 1962 ser da competência do Parlamento, o fim do estado de emergência é uma decisão que só pode ser tomada pelo chefe de Estado. Assad declarou que a Síria atravessava "um teste de união", considerando que inimigos do país haviam se aproveitado da situação para semear o caos.

"Essa conspiração é diferente em aspectos de forma e momento escolhido em relação ao que vem acontecendo no resto do mundo árabe", declarou.

"A Síria não está isolada da região (...), mas nós não somos uma cópia dos outros países", acrescentou. O movimento de contestação, iniciado em 15 de março através de convocações feitas pelo Facebook, entre elas uma intitulada "Revolução Síria 2011", anunciou novas manifestações pacíficas para sexta-feira na Síria, em homenagem aos mártires e para apoiar as reivindicações em favor da democracia.

Em Deraa, epicentro da contestação no sul do país, milhares de manifestantes participaram do funeral de Khalil Zatima, 17 anos, que morreu na noite de terça-feira para esta quarta-feira após ter sido ferido há uma semana durante os confrontos, informou à AFP um militante dos direitos humanos.

Manifestantes se dirigiram ao cemitério gritando "antes a morte do que a submissão". Os incidentes da semana passada deixaram entre 55 e 100 mortos, segundo fontes. Em Latakia, principal porto da Síria, 300 manifestantes realizaram um sit-in (manifestação pacífica) com uma faixa: "não à divergência, sim à paz e à liberdade".

O exército se encontrava nas proximidades, mas não interveio, informaram testemunhas. Ainda, sete militantes de direitos humanos presos em 16 de março em Damas, durante uma manifestação pela libertação de prisioneiros políticos, foram libertados, anunciou um advogado.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação