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Deserção de chanceler é golpe para Kadafi, mas tropas avançam no leste

Agência France-Presse
postado em 31/03/2011 10:28

Ajdabya - O dirigente líbio Muamar Kadafi sofreu um duro golpe político com a deserção de seu ministro das Relações Exteriores. Moussa Kussa renunciou ao cargo ontem (300 em Londres. Apesar disso, as tropas leais a Kadafi conseguiram retomar importantes cidades que estavam sob domínio dos rebeldes.

Apesar de Moussa Kussa ser uma das principais figuras do gabinete de Kadafi, o regime reagiu à notícia da deserção do ministro afirmando que "não dependia de indivíduos", segundo o porta-voz Moussa Ibrahim, que não confirmou ou negou a saída do chanceler.

"É uma luta de toda uma nação, e não depende de indivíduos ou de dirigentes, qualquer que seja seu posto", declarou.

Atuação

Moussa Kussa, de 59 anos, esteve vinculado nos últimos anos a todas as negociações que permitiram que a Líbia voltasse a ser frequentável para o Ocidente.

Em sua condição de chefe do serviço de inteligência, de 1994 a 2009, Kussa foi o homem forte dos comitês revolucionários, coluna vertebral do regime líbio e homem de confiança de Kadhafi.

Para o secretário britânico do Foreign Office (Relações Exteriores), William Hague, a deserção de Kussa demonstra que regime líbio "está afundando por dentro".

Kussa, que está em Londres, não recebeu uma oferta de imunidade da justiça britânica e internacional, destacou Hague.

Um alto dirigente americano classificou a deserção como uma notícia muito importante, que mostra que os colaboradores de Kadafi já não confiam na solidez do regime.

A renúncia de Kussa é "um sinal de que os dias do regime estão contados", segundo o ex-ministro líbio da Imigração, Ali Errischi, falando à rede de televisão France-24.

"Sempre disse que os dirigentes líbios são todos reféns em Trípoli. É incrível ver de que maneira Kussa conseguiu escapar. Kadafi já não conta com ninguém. Agora são só ele e seus filhos", acrescentou.

Otan

Por outro lado, a Otan assumiu às 06h GMT desta quinta-feira (31/3) o comando das operações na Líbia, substituindo os Estados Unidos à frente da coalizão internacional que, desde 19 de março, dirige a intervenção contra as forças de Muamar Kadafi, anunciou o secretário-geral da organização com sede em Bruxelas, Anders Fogh Rasmussen.

"Às 06h GMT (03H00 de Brasília) de quinta-feira, a Otan tomou o comando das operações aéreas internacionais na Líbia", anunciou Rasmussen.

"A Aliança dispõe de todos os meios necessários para conduzir suas missões sob a competência da operação ;Protetor Unificado;: o embargo das armas, a zona de exclusão aérea e as ações para proteger os civis e centros urbanos", acrescentou.

No terreno, as forças governamentais líbias e os rebeldes se enfrentavam nesta quinta-feira nos arredores do terminal petroleiro de Brega (leste), segundo depoimentos obtidos pela AFP a 30 km do local.

Os rebeldes instalaram um posto de controle a leste de Brega, na estrada que vai até Ajdabiya, e não era possível saber quem controlava o terminal petroleiro.

Bombardeios

Segundo os depoimentos, os combates são violentos na cidade, que fica 800 km a leste de Trípoli. Aviões sobrevoavam a região e executavam bombardeios, mas não foi possível determinar os alvos atacados.

Segundo o capitão do Exército líbio Awad Alourfi, que passou para o lado da rebelião, Brega é cenário de batalhas nas ruas e pequenos grupos leais a Kadafi "percorrem a cidade em veículos e disparam contra as pessoas".

Pelo menos um rebelde morreu nos confrontos.

"Esperamos os ataques aéreos e depois avançaremos", disse Alourfi.

O regime líbio denunciou o apoio militar da coalizão internacional aos rebeldes, cujo avanço foi freado no últimos dias pelas tropas leais a Kadafi.

Segundo o jornal The New York Times, agentes da CIA foram mobilizados na Líbia para contatar os rebeldes, enquanto o canal ABC afirmou que o presidente Barack Obama autorizou ajuda, em segredo, aos rebeldes.

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