Agência France-Presse
postado em 31/03/2011 14:36
Buenos Aires - O Tribunal Federal de Buenos Aires anuncia ainda nesta quinta-feira (31/3) a sentença contra militares e policiais argentinos que agiram num centro de extermínio para onde foram levados dezenas de sul-americanos, vítimas do Plano Condor - um mecanismo de coordenação da repressão entre ditaduras da região, nos anos 70.A essência do Plano Condor "esteve presente ao longo do julgamento, com documentação e testemunhas, entre elas, a de um responsável por documentos arquivados do Departamento de Estado, Carlos Osorio. Desses depoimentos, surge claramente o plano criminoso elaborado pelas ditaduras sul-americanas", disse à AFP o promotor Rodolfo Yanzón.
Segundo ele, foi pedida prisão perpétua para o general Eduardo Cabanillas e de 25 anos para três ex-policiais e agentes de inteligência que agiram no centro clandestino de detenção ;Automotores Orletti;, localizado na capital argentina, vinculado ao Plano Condor.
"Por Orletti passaram mais de cem opositores sul-americanos, a maioria uruguaios, mas também chilenos, bolivianos, peruanos e dois funcionários da embaixada de Cuba. Há denúncia que militares de outros países torturavam" nesse centro de detenção, disse o advogado.
Os quatro réus são acusados do assassinato de 65 pessoas, privação ilegal de liberdade e aplicação de tormentos.
Além de Cabanillas, estão no banco dos réus o policial Raúl Guglielminetti, ou "Major Guastavino", e os ex-agentes civis de inteligência Eduardo Ruffo e Horacio Martínez Ruiz. O ex-coronel Rubén Visuara, também acusado, faleceu mês passado.
Neste julgamento se ventila o homicídio, entre outros, do filho do poeta e jornalista argentino Juan Gelman, Marcelo, cujos restos apareceram em 1989 dentro de tambores afundados no Rio Luján (60 km a oeste de Buenos Aires).
Mas não estão incluídos o sequestro e o desaparecimento de María Claudia García, a nora do poeta que tinha 19 anos na época e estava grávida de sete meses quando foi trasladada clandestinamente de Orletti a Montevidéu. Na prisão, ela teve uma menina, Macarena - apropriada por um policial uruguaio, mas que recuperou sua identidade em 2000.
O centro clandestino funcionou entre junho e novembro de 1976, em plena ditadura argentina (1976-1983), numa ex-oficina mecânica do bairro Floresta, de classe média, alugada pela secretaria de Inteligência do Estado (SIDE) e a que os militares chamavam sarcasticamente "El jardín".
O local, onde hoje funciona um centro para a memória, fechou depois que um casal de sequestrados conseguiu tomar um fuzil e fugir no meio de um tiroteio, exilando-se no México.
Através do Plano Condor, as ditaduras sul-americanas dos anos 70 trocavam informação e, em muitos casos, realizavam operações conjuntas para a detenção ou desaparecimento de opositores em seus respectivos territórios.
O Tribunal Federal da capital argentina divulgará logo mais à noite o veredicto contra os quatro acusados do caso ;Automotores Orletti;, depois de nove meses de audiências.