Mundo

Narcotráfico mais violento é desafio para o próximo presidente peruano

Agência France-Presse
postado em 09/04/2011 20:10
LIMA - O candidato que vencer as eleições deste domingo no Peru terá um duro desafio durante o mandato: combater um narcotráfico cada vez mais violento em um país que lidera, com a Colômbia, a produção mundial de cocaína, segundo analistas.

[SAIBAMAIS]Ajustes de contas, número de assassinatos em aumento nas principais cidades do Peru, novas regiões onde opera o narcotráfico, cartéis mexicanos e colombianos em território peruano, métodos cada vez mais sofisticados para exportar cocaína: especialistas consultados pela AFP advertem para o desafio do próximo governo.

"O Estado não fez o que deveria para deter tal situação, e por isso o narcotráfico cresceu ao longo da década. Não houve liderança política para atacar o assunto como o problema merece", disse Jaime Antezana, especialista em tráfico de drogas.

No Peru, o aumento do narcotráfico "é uma combinação do incremento da demanda na Europa, na Ásia e América Latina, com a pressão exercida pelo Plano Colômbia, permitindo ao governo de Bogotá reduzir hectares de plantação de coca e a produção de cocaína", acrescentou.

"Em 2009, a Colômbia apreendeu 203 toneladas das 410 que produziu, ou quase a metade, enquanto que no Peru foram apreendidas 14 toneladas de um total de 317. Não há nenhuma comparação".

Antezana informou, além disso, que os candidatos que vão participar da eleição no próximo domingo não fizeram referência aos cartéis mexicanos - Sinaloa, Juárez, Tijuana - que atuam em território peruano.

Em 2010 foram registrados 11 confrontos armados entre traficantes e policiais ou militares. Nunca antes o Peru teve uma tal cifra. Também houve 78 ajustes de contas em 14 regiões do país, ligadas ao narcotráfico. É um crescimento exponencial", estimou.

Segundo o economista Hugo Cabieses, "os candidatos fingem não saber ou não querem tocar no assunto, porque se o fizerem, necessariamente, terão que admitir que o feito até agora é um fracasso total".

"Não há nada de novo sob o sol", disse. "É a continuação da mesma estratégia fracassada, que não deu nenhum resultado até agora. O narcotráfico vai deixar a fatura para o novo governo que não tem uma estratégia coerente".

"O mais preocupante é o terrorismo, a insegurança nas cidades e a infiltração do narcotráfico na atividade política", acrescentou.

Domingo passado, em um debate, os candidatos apenas se referiram ao tema.

Para o ex-presidente Toledo, a estratégia antidrogas passa pelo "estrito controle dos insumos e do dinheiro lavado".

Keiko Fujimori disse que na amazônia peruana "recorreram à tecnologia da rega que permitiu aos traficantes duplicar as folhas de cultivo e triplicar a produção, ao mesmo tempo em que o Estado não apresenta planos de apoio aos camponeses com cultivos alternativos".

Recordou que durante o governo de seu pai, Alberto Fujimori (1990-2000) o cultivo da folha de coca caiu de 120.000 hectares para 35.000 e que agora voltou a subir para 70.000.

O nacionalista de esquerda Ollanta Humala, líder nas pesquisas, disse que "o narcotráfico tornou-se ameaça para a segurança nacional", lembrando que em 2000 o Peru produzia 141 toneladas de cocaína e, agora, produz 300 toneladas.

"Somos o segundo exportador de cocaína do mundo. Isto é possível porque a corrupção corrói as autoridades", disse Humala.

Os analistas coincidem que em junho próximo, quando a ONU publicar seu relatório sobre a produção de cocaína no ano 2010, o Peru terá passado ao primeiro lugar, acima da Colômbia, o que não ocorria desde 1996. Será esse o panorama a ser enfrentado pelo próximo presidente peruano, que assumirá em julho.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação