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Justiça egípcia convoca Mubarak para responder por repressão e corrupção

Agência France-Presse
postado em 10/04/2011 16:27
CAIRO - A justiça egípcia convocou o ex-presidente Hosni Mubarak e seus dois filhos, Alaa e Gamal, para que se defendrem das acusações de corrupção e repressão das manifestações que provocaram a queda de seu regime, há dois meses.

Mubarak e os filhos foram intimados a depor sobre o uso da violência durante a rebelião popular de janeiro e fevereiro, que terminou com um saldo oficial de 800 mortos e milhares de feridos, segundo um comunicado do procurador geral Abdel Meguid Mahmud.

Além disso, serão interrogados sobre acusações de "uso indevido do dinheiro público", em uma investigação sobre a corrupção do antigo regime.

Como parte das operações, a justiça anunciou a detenção, por 15 dias, do ex-primeiro-ministro Ahmad Nazif, também acusado de corrupção durante os anos que ocupou o cargo.

Horas antes do anúncio da justiça egípcia, Hosni Mubarak, que deixou o poder no dia 11 de fevereiro após três décadas como presidente, rompeu o silêncio de dois meses em uma mensagem de áudio transmitida pela rede saudita Al Arabyia.

Ele se defende das suspeitas de possuir dinheiro roubado do Estado em contas no exterior, e expressa indignação pelas acusações contra sua família.

"Não posso permanecer em silêncio diante das campanhas de difamação e das tentativas de atentar contra minha reputação e minha integridade, assim como a reputação e integridade da minha família", declarou Mubarak, evocando também uma "campanha injusta", que o fez "sofrer muito".

O ex-presidente indica que nem ele nem sua mulher, Suzanne, possuem "bens ou contas no exterior", apesar das novas autoridades egípcias terem ordenado o congelamento de seus bens no país e no exterior.

O ex-chefe de Estado indicou estar disposto a colaborar com a justiça, e disse que possui contas apenas em um banco egípcio, sem informar os valores depositados.

Entretanto, não menciona eventuais bens de seus filhos - que, acredita-se, também são donos de fortunas em contas estrangeiras.

Na mensagem deste domingo, Hosni Mubarak não revela onde está atualmente. Segundo as autoridades, o ex-presidente permanece sob prisão domiciliar na cidade costeira de Sharm el-Sheikh

Na sexta-feira, milhares de egípcios voltaram a ocupar a praça Tahrir, no centro do Cairo - onde ocorreram as manifestações que por fim derrubaram Mubarak - para exigir da cúpula militar que governa o país o julgamento do ex-presidente e de seus familiares e colaboradores.

Neste domingo, milhares de manifestantes continuavam protestando na praça Tahrir. Eles acusam os militares de frear as reformas no país.

"O povo pede a derrubada do marechal", gritavam os manifestantes, referindo-se a Husein Tantaui, chefe do colégio de generais que assumiu o poder após a queda de Mubarak - e que por 20 anos foi seu ministro da Defesa.

O exército nega ter atirado contra os manifestantes na noite de sexta-feira.

Há alguns dias, as autoridades egípcias anunciaram a criação de uma comissão para investigar os bens de Mubarak e seus familiares.

Vários ex-ministros do regime e empresários ligados ao clã Mubarak já enfrentam processos na justiça ou tiveram os bens congelados; muitos foram inclusive proibidos de deixar o país. A opinião pública, entretanto, é a favor de punições mais severas.

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