Agência France-Presse
postado em 10/04/2011 17:00
Os disparos com armas pesadas voltaram a cortar o silêncio neste domingo no bairro do Palácio Presidencial de Abidjan, depois do apelo lançado por advogados de Alassane Ouattara, presidente reconhecido pela comunidade internacional, pedindo que França e ONU "neutralizem" as forças de Laurent Gbagbo.
Os disparos "começaram por volta das 12h30 GMT em nossa área e recomeçaram às 14h GMT. Escutamos fortes detonações de armas pesadas e armas automáticas, não sabemos o que está acontecendo", disse à agência de notícias AFP um morador do centro da cidade.
"Houve tiros esporádicos nos últimos dias, mas desta vez é muito mais forte", relatou outro morador.
Os disparos, de origem desconhecida, foram ouvidos no bairro de Cocody, no norte de Abidjan, onde fica a residência de Laurent Gbagbo.
Com o novo combate, os advogados franceses de Alassane Ouattara pediram que às Nações Unidas e à França neutralizem os milicianos pagos pelo presidente Laurent Gbagbo e entreguem à justiça o candidato derrotado.
"Pedimos às forças imparciais da ONUCI (força da ONU) com o apoio da Licorne (força militar francesa que apoia a ONUCI) que eliminem imediatamente as armas pesadas, que neutralizem os mercenários de Gbagbo - que constituem uma força de ocupação ilegal - e que entreguem à justiça o candidato derrotado", afirmaram Jean-Paul Benoit e Jean-Pierre Mignard, advogados de Ouattara e da República da Costa do Marfim, em um texto divulgado em Paris.
"É o espírito e a letra da resolução 1975 do Conselho de Segurança" da ONU, adotada no dia 25 de março, que exige fudamentalmente que "todas as medidas necessárias" sejam tomadas para proteger os civis e impedir a utilização de armas pesadas contra as populações civis, argumentam os advogados.
A situação continua instável em Abidjan neste domingo, onde os defensores do atual presidente Laurent Gbagbo - cuja recusa a deixar o poder após a derrota nas eleições de novembro foi o estopim da crise - convocaram os marfinenses à "resistência" contra "o exército francês", acusado de apoiar Ouattara, cuja vitória eleitoral é reconhecida pela comunidade internacional.
Uma moradora que vive ao lado do Hotel Golf, onde Ouattara mantém seu quartel-general, atacado no sábado pelas forças de Gbagbo, disse por telefone à AFP ter visto "entre 200 e 300 pessoas que fugiam do bairro" quando saiu para comprar pão.
"Era terrível, se você tivesse ouvido isso não poderia ficar aqui", explicou outra habitante de Abidjan, referindo-se aos violentos confrontos do sábado. "Quando terminou, todos começaram a fazer as malas e partir com seus pertences".
"De manhã (domingo), vimos veículos que transportavam homens armados, que começaram a se espalhar pelo bairro", relatou, sem indicar a que grupo pertenciam os homens.
Um funcionário do Hotel Golf, por sua vez, estimou que "a noite foi muito tranquila".
"Os funcionários que haviam sido levados para um local seguro retomaram o trabalho depois das 18h, e esta manhã não aconteceu nada de especial", afirmou.