Agência France-Presse
postado em 11/04/2011 15:01
A comunidade internacional deve "obrigar" o coronel Muamar Kadhafi a "deixar o poder" na Líbia, assegurou em entrevista à AFP o filósofo francês Bernard-Henri Lévy, que ajudou os rebeldes líbios a estabelecer os contatos que conduziram a seu reconhecimento por parte do governo francês. "Kadhafi não aceitará (deixar o poder), mas provavelmente terão de forçá-lo", declarou Levy, em visita a Benghazi, na "Líbia Livre", reduto da rebelião contra o coronel Kadhafi."Estamos forçando o (presidente da Costa do Marfim, Laurent) Gbagbo a abandonar o poder. Kadhafi está se ;gbagboizando;. Kadhafi perdeu, foi desautorizado por seu povo, Kadhafi foi desautorizado pela comunidade internacional", completou o filósofo, pouco antes da prisão do presidente marfinense.
Há pouco mais de um mês, Levy reuniu-se em Benghazi com os membros do Comitê Nacional de Transição (CNT), órgão da rebelião líbia, e facilitou seu reconhecimento por parte da França como o único representante legítimo do povo líbio.
Posteriormente, Itália e Qatar seguiram os passos de Paris, apesar de a onda de reconhecimento internacional esperada pelo CNT não ter se concretizado.
Do ponto de vista militar, a ONU votou a favor de uma zona de exclusão aérea executada por uma coalizão internacional primeiro e pela Otan depois. Mas os rebeldes não conseguiram até o momento aproveitar a destruição da capacidade aérea do exército líbio, daí os temores de um recrudescimento do conflito, no qual a Otan cometeu erros ao atacar os rebeldes.
Os Estados Unidos já retiraram meia centena de aviões que tinham sido mobilizados na campanha líbia. "A retirada relativa dos americanos, a transferência do comando à Otan, seus diversos erros, tudo isso são sinais que não podem enviar a Kadhafi uma mensagem diferente da enviada há algumas semanas", declarou Lévy.
Enquanto uma delegação da União Africana (UA) encontra-se em Benghazi para negociar um cessar-fogo entre a rebelião e o coronel Kadhafi, o escritor francês considera que a UA "não é fiel a si mesma".
Kadhafi aceitou no domingo o "Mapa do Caminho" da UA que prevê um "cessar imediato das hostilidades" e a "colocada em andamento de um período de transição", levando em conta "as legítimas aspirações democráticas do povo líbio".
No entanto, não prevê a renúncia de Kadhafi e sua família, condição prévia para que a rebelião aceite negociar e condição "solicitada por uma maioria de líbios", afirmou Lévy. A proposta "supõe a manutenção de Kadhafi" no poder, insistiu.
"Todos temos na memória a África de Lumumba (Patrice Lumumba, pai da independência do Congo), a África de Senghor (Léopold Sédar Senghor, primeiro presidente do Senegal), a África de Césaire (Aimé Césaire, ideólogo da negritude)", declarou.
"Esta África não abraçou Kadhafi", completou.
"Esta África estaria ao lado da Líbia Livre e sinto uma grande tristeza ao ver essa espécie de baile de máscaras, este espetáculo de falsa fraternidade entre os herdeiros de Senghor (...) e o carniceiro de Trípoli. Há aqui uma traição dela mesma", concluiu Lévy.