Agência France-Presse
postado em 13/04/2011 08:00
Proprietária e operadora da central Fukushima Daiichi, a Tokyo Electric Power (Tepco) anunciou ontem ter iniciado uma operação para tentar retirar a água altamente radioativa que está infiltrada nas instalações da usina nuclear. Apesar dos tremores secundários que abalam a região, os funcionários começaram a bombear o líquido contaminado na terça-feira à noite, em uma galeria técnica subterrânea conectada ao reator número dois. Essa tarefa é considerada indispensável para a retomada dos trabalhos de recuperação dos sistemas de resfriamento.O bombeamento deve durar de quatro a cinco dias. Quase 60 mil toneladas de água inundaram os depósitos, encanamentos e as salas de máquinas de três dos seis reatores da central. ;Fazemos todo o possível para encontrar um meio de nos livrarmos dessa grande quantidade de água contaminada por substâncias radioativas, e para limitar as radiações;, declarou o presidente da Tepco, Masataka Shimizu, em uma entrevista coletiva.
Sob forte pressão, ele afirmou que a situação na usina ; já comparada ao acidente de Chernobil, o pior da história, ocorrido em 1986 ; está estabilizada. Disse ainda que a operadora elabora em um plano para encerrar a crise nuclear causada pelos efeitos do terremoto e tsunami de 11 de março. ;Seguindo instruções do primeiro-ministro [Naoto] Kan, estamos trabalhando nos detalhes específicos de como lidar com a situação;, destacou.
Shimizu esteve ausente durante boa parte da operação de recuperação ; só visitou a área na última segunda-feira. Na entrevista de ontem, ele se recusou a comentar o clamor público por sua renúncia, e novamente se desculpou ao povo japonês pela crise. ;Estamos fazendo o maior esforço para desligar os reatores de Fukushima Daiichi e deter a disseminação da radiação;, disse.
Discriminação
Enquanto técnicos buscam uma forma de conter a situação na central nuclear, os moradores das áreas próximas à Fukushima, obrigados a abandonar suas casas, são alvo de grande desconfiança na busca de um lugar para ficar. Muitos não têm ingresso autorizado nos abrigos, pelo temor de que estejam contaminados por radiação e prejudiquem outras pessoas, até a apresentação de um certificado oficial provando que estão saudáveis.
Os equipamentos de detecção de radiação instalados na entrada dos abrigos tornaram-se postos de controle que dão acesso aos abrigos. ;As pessoas estão simplesmente muito preocupadas e, infelizmente, isso pode levá-las a uma discriminação;, destacou Kosuke Yamagishi, do departamento médico da Prefeitura de Fukushima.
Uma menina de 8 anos, que vivia em Minamisoma, localidade situada a 20km das instalações atômicas, foi recusada por um hospital da cidade de Fukushima, informou o jornal Mainichi. Os pais da garota não apresentaram o certificado de que ela estava livre de contaminação. Os documentos foram fornecidos pela Prefeitura de Fukushima. Kenichi Matsumoto, assessor do governo do primeiro-ministro Naoto Kan, declarou que a região em torno da central de Fukushima poderá permanecer inabitável durante 10 ou 20 anos.
Ontem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) defendeu a necessidade de criação de sistemas de vigilância sanitária no Japão com o objetivo de medir as consequências do acidente em Fukushima.