postado em 14/04/2011 07:02
Os rebeldes líbios ganharam ontem mais uma arma na luta contra as tropas de Muamar Kadafi. Eles devem receber uma generosa ajuda financeira dos países aliados, que no entanto divergem sobre o envio direto de material bélico. A decisão de financiar a rebelião foi tomada ontem pelo Grupo de Contato para a Líbia, liderado pela França e pelo Reino Unido, reunido em Doha, no Catar, para discutir a guerra civil.
A articulação diplomática, criada em Londres pelos países que participam da intervenção internacional no país, reconheceu o Conselho Nacional de Transição (CNT) como representante legítimo do povo líbio e reiterou que a única saída para o fim da crise é a saída de Kadafi. Por enquanto, Organização das Nações Unidas (ONU) quer arrecadar US$ 310 milhões para ajudar a reconstrução do país e a formação de um regime democrático.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu que a comunidade internacional se mantenha unida e intensifique o diálogo com os rebeldes. ;É fundamental que falemos com uma só voz. Precisamos mobilizar todos os esforços disponíveis, inclusive militares, para ajudar aqueles que precisam;, afirmou. No encontro de Doha, que reuniu 20 países e organizações, Ban afirmou que a crise na Líbia deve deixar sérios problemas humanitários. Mais de 490 mil pessoas já deixaram o país e, segundo estimativa da ONU, 3,6 milhões de líbios ; metade da população ; precisarão de apoio no fim do conflito.
Para ajudar a transição à democracia, Ban calcula que serão necessários US$ 310 milhões, mas até o momento a ONU só levantou 39% dessa quantia. ;Está claro, a Líbia vai precisar das nossas forças para manter a paz e para a reconstrução uma vez que o cessar-fogo seja declarado. O apoio (da comunidade internacional), seja econômico ou na forma de troca de experiências, é muito importante;, pediu o secretário-geral da ONU.
Financiamento
O Grupo de Contato para a Líbia divulgou uma declaração conjunta na qual anuncia a decisão de criar um ;mecanismo financeiro temporário; para ajudar o conselho comandado pelos rebeldes a ;administrar as ajudas e atender as necessidades urgentes;, segundo o texto lido pelo pelo primeiro-ministro e chanceler do Catar, xeque Hamad Bin Jasem Bin Jabr Al-Thani. O apoio, além dos bombardeios aéreos comandados pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, aliança militar liderada pelos EUA), deve ser apenas financeiro, por enquanto. O envio de armamento ainda não foi formalmente discutido.
Segundo Ali Abdullatif Ahmida, professor de Ciência Política e autor do livro The making of modern Libya(sem título em português), a intervenção militar internacional pode seguir direções mais diretas se o impasse no conflito continuar. ;As ações da Otan são limitadas e não têm tido o efeito necessário. Ao que parece, eles não chegaram a um consenso sobre como agir e como lutar contra o regime (de Kadafi). Isso é um problema. A única forma de derrotar as tropas do governo é treinar e amar a oposição. A opção de negociação só deve ser proposta se Kadafi tiver opção de saída;, disse ao Correio.
O chanceler italiano, Franco Frattini, defendeu o fornecimento de armas aos rebeldes, sob o argumento de que a resolução pela qual a ONU autorizou a intervenção não proíbe o fornecimento de armas de ;autodefesa;. ;Ou nós damos a essas pessoas os meios para se defenderem, ou nos livramos da obrigação de defender a população da Líbia;, disse Frattini. O representante dos rebeldes no encontro, Ali Al-Issawi, pediu mais apoio da coalizão. ;Precisamos de mais proteção para os civis. Queremos mais bombardeios aéreos contra os tanques (de Kadafi) e os lançadores de mísseis;, afirmou. Hoje, Mahmoud Jibril, um dos líderes da oposição, vai se encontrar com representantes do Departamento de Estado, em Washington, para discutir a situação.