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Execução de pacifista italiano em Gaza causa indignação internacional

Agência France-Presse
postado em 15/04/2011 22:05

GAZA - Um grupo salafista sequestrou na quinta-feira e executou o pacifista italiano Vittorio Arrigoni, anunciou nesta sexta o Hamas, que prometeu perseguir os autores do que chamou de "crime odioso", inédito no território palestino autônomo e que causou comoção na Itália e a reprovação internacional.

O corpo do cidadão italiano foi encontrado na madrugada desta sexta-feira (15/4). "O italiano foi executado por asfixia e seu corpo encontrado em uma rua da Cidade de Gaza", declarou à AFP um porta-voz dos serviços de seguraça do Hamas, o movimento islâmico que controla a Faixa de Gaza.

Vittorio Arrigoni, jornalista e militante do movimento pacifista pró-palestino International Solidarity Mouvement (ISM), teve seu sequestro anunciado na tarde de quinta-feira por militantes do grupo salafista, que exigiam a libertação de seus camaradas detidos pelo Hamas.

Em um vídeo exibido no YouTube, os autores do sequestro ameaçavam executar Arrigoni caso o Hamas não libertasse seus companheiros salafistas, incluindo o chefe do grupo Tawhid wa al-Jihad, preso em março. "Sequestramos o italiano Vittorio e exigimos do governo de (Ismail) Haniyeh que liberte nossos prisioneiros, começando pelo xeque Hisham Al Sueidan. Se não responderem (...) em 30 horas a partir das 11H00 (05H00 Brasília) de 14 de abril, executaremos o prisioneiro".

O grupo se identifica como as "Brigadas do Companheiro Heróico Mohamed ben Muslima". Hisham Al Sueidan, oriundo do campo de refugiados de Nusseirat, foi detido em março passado pelas forças de segurança do Hamas.

Al Sueidan era ligado a Abdelatif Mussa, líder do pequeno grupo salafista Jund Ansar Alah, que morreu em confronto com a polícia do Hamas em 15 de agosto de 2009, durante a tomada de uma mesquita de Rafah.

Os grupos palestinos de Gaza que se definem como "salafistas" - favoráveis à volta dos costumes originais do Islã - acusam o Hamas de debilidade diante de Israel e na imposição da lei islâmica.

Existem ao menos cinco grupos deste tipo na Faixa de Gaza (Jaich al Islam, Jund Ansar Alah, Tawhid wa al-Jihad, Jaich al Uma e Ansar al Suna), que reúnem centenas de membros.

O porta-voz do ministério do Interior do Hamas, Ihab Al Ghussein, condenou o "crime atroz", que segundo ele "não reflete nossos valores, nossa religião, nossos costumes e tradições". Também disse que a lei será aplicada aos autores. Desde a autonomia do território, em 1994, nenhum refém estrangeiro foi executado.

As forças de segurança identificaram um membro do grupo, que entregou outros integrantes e mostrou o local do cativeiro do ativista, segundo o porta-voz. "Condenamos este crime odioso e manifestamos toda nossa solidariedade com a família da vítima", declarou à AFP o principal negociador da Autoridade Palestina, Saeb Erakat.

O ministério italiano das Relações Exteriores condenou em um comunicado o "bárbaro assassinato" e denunciou "um gesto de violência vil e irracional". O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, por sua vez, pediu que o autor do crime seja levado ante a justiça o mais rápido possível.

A indignação tomou conta da Itália, onde foram realizadas manifestações em toda a península para protestar contra o assassinato de Arrigoni.

Partidos de esquerda, organizações não-governamentais, o Fórum Palestino e associações pacifistas realizaram passeatas em Roma, Milão, Gênova, Rimini, Lecco, Turim, Nápoles e Brindisi. Em uma mensagem enviada à mãe do pacifista, Egidia Beretta, o presidente da República italiana, Giorgio Napolitano, condenou o assassinato "Inteirei-me com consternação sobre a terrível notícia do vil assassinato de seu filho Vittorio em Gaza. Esta barbárie terrorista causa repulsa nas consciências civis", escreveu Napolitano.

O tribunal de Roma anunciou a abertura de uma investigação judicial do sequestro e mortes de Arrigoni. Cerca de 20 organizações humanitárias italianas trabalham em Gaza e decidiram aumentar as medidas de segurança, apesar de confirmar sua permanência em sinal de solidariedade e cooperação com a sociedade civil palestina.

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