postado em 17/04/2011 09:35
Marine Le Pen parece estar assegurando para si, desde já, um papel de primeiro plano na campanha para as eleições presidenciais de 2012 ; ainda que, no fim, fique fora do segundo turno. Capaz de ;rejuvenescer; a imagem da Frente Nacional, o partido de extrema direita cuja direção herdou do pai, Jean-Marie Le Pen, a candidata já colocou na sinuca a direita clássica, agrupada em torno do presidente Nicolas Sarkozy. ;O forte crescimento de Marine Le Pen e a queda na popularidade de Sarkozy podem inspirar uma parte da direita a apresentar um outro candidato que não o presidente;, disse ao Correio o historiador francês Michel Winock, estudioso da extrema direita. ;Tudo isso pode desestabilizar a direita e talvez estilhaçar a UMP;, analisa o professor, que visitou Brasília no fim de março, a convite da Aliança Francesa, para a abertura da edição de 2011 do ciclo de debates ;Conversas do nosso tempo;.As eleições cantonais de março confirmaram um crescimento da Frente Nacional. Como se explica essa recuperação, depois dos revezes sofridos de 1995 para cá ; com exceção de 2002?
A ascensão da FN não foi contínua. Na eleição presidencial de 2007, a votação de Jean-Marie Le Pen teve um recuo sensível em relação a 1995. Foi sua filha, Marine Le Pen, quem contribuiu em grande medida para dar roupa nova ao partido, que voltou a crescer. A razão principal é que, com ela, aquilo que era uma legenda de protesto se popularizou. A FN não tem mais a imagem de uma formação pseudo-fascista e racista, nostálgica do marechal Pétain. Marine Le Pen soube modernizar o discurso do pai, mesmo que no fundo não tenha mudado os princípios. De outro lado, o crescimento da FN se deve às decepções causadas pelas políticas de Nicolas Sarkozy, por sua incapacidade de conter o desemprego em massa e pelo medo generalizado da imigração de muçulmanos. Portanto, pode-se perguntar se, por tentar pescar nas mesmas águas ; com o debate sobre a identidade nacional, a exclusão dos romenos e o debate sobre o Estado laico, que tem o islã como alvo ;, Sarkozy não acabou popularizando a temática da FN.
A FN conquista eleitores sobretudos nos bastiões históricos da esquerda, especialmente do Partido Comunista, como a ;periferia vermelha; de Paris. Como isso se explica? Esse eleitorado mudou ideologicamente?
O eleitorado popular, dos operários e trabalhadores em geral, é a grande força da FN. Pode-se constatar isso nos antigos ;feudos; do Partido Comunista, que deixou de ter uma existência política real com a dissolução da União Soviética. O PC exerceu durante um longo tempo um papel que os cientistas políticos chamam de ;função de tribuno; (da plebe). Esse lugar é ocupado agora pela FN.
O repique da FN representa um novo abalo na cena política francesa, depois do desaparecimento do PC, da UDF centrista e mesmo do gaullismo clássico?
Uma das hipóteses que esse ressurgimento da FN me sugere é a implosão da direita clássica. A UMP, de fato, está dividida entre uma tendência mais dura, bastante próxima das ideias de Marine Le Pen, e outra mais centrista e liberal, que ajudou a derrubar da lei de segurança interna alguns artigos que eram do gosto de Sarkozy. Por outro lado, o forte crescimento de Marine Le Pen e a queda na popularidade de Sarkozy podem inspirar uma parte da direita a apresentar um outro candidato que não o presidente. Tudo isso pode desestabilizar a direita e talvez estilhaçar a UMP.
Qual pode ser o impacto disso no futuro político do presidente?
Conhecendo o temperamento do atual presidente, combativo e voluntarioso, me parece muito duvidoso que ele não venha a se candidatar à reeleição em 2012. Seria necessária da parte dele uma decisão heroica e política para dar lugar a outro candidato, com o objetivo de salvar as chances da direita. Em todo caso, o futuro é sombrio para ele. Mas, daqui até a eleição, resta um ano e tudo pode acontecer. (SQ)