postado em 18/04/2011 07:16
Sob o comando do ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, o Brasil resolveu apostar em uma política externa mais tradicional. Nos primeiros 100 dias de governo, com uma diretriz mais reservada, a gestão da presidente Dilma Rousseff partiu para novos caminhos de negociação e seguiu posturas diferentes de seu antecessor, sem esquecer das vitórias conquistadas no passado. A diplomacia brasileira continua, sob Dilma-Patriota, a fortalecer as relações com os países da América Latina, mas apertou a mão da China, hoje seu principal parceiro comercial, e abriu as portas para revigorar as relações com os Estados Unidos. De acordo com especialistas, o país está na direção certa, restando saber se o governo terá pulso firme para enfrentar os desafios que inexoravelmente surgirão nos próximos quatro anos. As comparações com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva são inevitáveis e a mudança de estilo para tratar determinados temas é perceptível ; embora não drástica. Segundo Rubens Barbosa, embaixador do Brasil nos EUA entre 1999 e 2004, a política externa brasileira, tradicionalmente, tem uma continuidade, mas é possível perceber alguns pontos de diferença. ;O governo anterior resolveu apostar em alguns pontos fora da curva clássica. Agora, podemos notar uma continuidade, mas com ênfases e estilos diferentes. Estamos retornando à ação diplomática nas formas mais tradicionais do Itamaraty;, analisa o diplomata aposentado.
Para Barbosa, o governo deu um novo tom ao seu discurso quando mudou de posição em relação ao Irã e votou a favor de uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) para investigar violações de direitos humanos no país. A mudança mais importante, porém, foi a reaproximação com os EUA e a visita do presidente Barack Obama. ;O Brasil adotou uma atitude mais pragmática e mais objetiva nas relações com os americanos e isso foi uma boa estratégia;, sustenta o diplomata.
A forma como o país trata os assuntos no âmbito internacional também se tornou mais discreta e a atitude reservada pode definir as diretrizes do Itamaraty durante todo o governo. ;No geral, a política externa, por causa da mudança de estilo tanto da Dilma (em relação a Lula) quanto do Patriota (a Celso Amorim) de não buscar protagonismo, teve uma tendência positiva. Eles escolheram voltar para o leito comum da diplomacia brasileira, que não busca manchete e mantém todas as políticas no governo;, revela Barbosa.
Para Clodoaldo Bueno, professor do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a postura mais ponderada do Brasil na política externa é um bom sinal. ;Assim, ele não fica preso no próprio discurso. O ex-presidente Lula falava demais e, às vezes, nas relações internacionais é preciso mais reserva para que o governo possa decidir que linha deve seguir;, afirma.
Segundo Amado Luiz Cervo, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) e autor do livro História da política exterior no Brasil, o novo governo não deve participar tanto das questões internacionais e focar suas ações mais nas relações bilaterais, como a recente viagem de Dilma à China para melhorar a balança comercial entre os dois países. ;Lula era exibicionista. A Dilma é mais moderada e ponderada. Ela quer resultados e usa a diplomacia para isso. Ela, por exemplo, dificilmente vai se exibir para mediar uma questão nuclear ou os conflitos no Oriente Médio;, observa.
Cortesia
Patriota fez 13 visitas sem a companhia da presidente Dilma nos últimos três meses. No primeiro ano do governo Lula, em 2003, o então chanceler Celso Amorim fez um périplo de dimensão similar ; 12 viagens no mesmo período. Na época, as preferências estavam na Europa e não nos países da América Latina ou da Ásia. ;As visitas de cortesia viraram tradição na diplomacia brasileira há uns 30 anos, quando não havia essas comunicações rápidas. O presidente não precisa ir, afinal, tem que se preservar um pouco, e para isso é que estão aí os ministros;, diz Bueno.
Um dos grandes focos da política externa da gestão de Amorim e Lula foi a América Latina. A estratégia não deve mudar nos próximos anos e Dilma deve tirar proveito das boas relações deixadas pelo antecessor. Nesses primeiros três meses de governo, Patriota visitou Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Venezuela, Chile e Colômbia. ;Será preciso manter essa visão de consciência da importância dos países latino-americanos e ter tolerância com a diversidade do continente. Mas devemos lembrar que o Brasil não é a América do Sul, o lugar do Brasil é o mundo. Por isso, ele deve buscar um clima de entendimento por aqui e também buscar a realização de interesses na Ásia, na Europa e nos EUA;, sugere Cervo.
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