Agência France-Presse
postado em 18/04/2011 15:01
BUDAPESTE - O primeiro-ministro conservador da Hungria, Viktor Orban, celebrou nesta segunda-feira (18/4) uma vitória pessoal com a aprovação, pelo Parlamento, de uma nova Constituição, que inclui referências a Deus, ao cristianismo e à família tradicional, e qualificada de "golpe" constitucional pela oposição.No total, 262 deputados votaram a favor, 44 contra e um parlamentar se absteve, numa votação previsível, uma vez que o partido da situação, Fidesz, dispõe, no Parlamento, de maioria de dois terços.
Os socialistas (MSZP) e a esquerda liberal-Verdes (LMP) boicotaram a votação, enquanto que a ultradireita (Jobbik) votou contra o texto, denominado por grande parte da imprensa húngara de "Constituição Orban".
"Vivemos um momento histórico", afirmou o presidente do parlamento, Laszlo K;vér (Fidesz).
"O texto reconhece o cristianismo como base de nossa civilização, mas a Constituição garante a liberdade moral", acrescentou, pedindo, depois, aos deputados que cantassem o hino nacional.
A nova constituição deve ainda ser assinada pelo chefe de Estado, Pal Schmitt, ligado a Viktor Orban, no dia 25 de abril, e entrará em vigor em 1; de janeiro de 2012.
As referências a Deus, ao cristianismo e à família tradicional causam polêmica na Hungria, onde uma série de manifestações da oposição, de organizações não governamentais (ONG) e movimentos cidadãos mobilizaram milhares de manifestantes nos últimos dias.
Segunda-feira, cidadãos convocados pelo Facebook contra a lei sobre meios de comunicação de Viktor Orban, qualificada de "liberticida" por seus detratores, organizaram manifestação perto do Parlamento para denunciar o que, para eles, significa o "questionamento" do Estado de direito.
No preâmbulo, cheio de fórmulas sobre o legado histórico cristão e nacionalista, a Constituição saúda "a unidade espiritual e intelectual" da nação húngara, "desgarrada em várias partes devido a tormentas históricas".
Seus detratores consideram que esta Constituição viola as liberdades fundamentais e constitui essencialmente um meio para Viktor Orban de fortalecer seu poder.
Organizações feministas, de defesa dos direitos humanos, ou associações de defesa dos homossexuais afirmaram que o projeto de Constituição é "discriminatório" e "antidemocrático" e, ao mesmo tempo, marcado por "uma ideologia cristã de direita".
Preocupam-se, em particular, pela sorte dos ateus, homossexuais e famílias monoparentais.
Estimam que a porta está aberta para uma possível proibição do aborto, pois a constituição estipula que "a vida do feto deve ser protegida a partir do momento da concepção".
Além disso, o Comitê de Orçamento do Banco Central, composto por membros ligados a Viktor Orban, terá direito de veto sobre o orçamento e o chefe de Estado, Pal Schmitt, poderá dissolver o Parlamento.
Viktor Orban se justifica ao declarar que a constituição anterior era da época em que a Hungria pertencia ao bloco comunista, depois da Segunda Guerra Mundial, tendo sido modificada, no entanto, em 1989, depois da derrubada do bloco soviético.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, de visita nesta segunda-feira a Budapeste, mencionou "as preocupações internacionais" em torno da carta, e chegou a pedir a Viktor Orban que "busque conselhos de organismos "como a ONU e o Conselho da Europa".