Agência France-Presse
postado em 18/04/2011 17:17
ONAGAWA- A tranquilidade dos sobreviventes do terremoto e do tsunami no Japão suscitou admiração no exterior, mas os psicólogos consideram que por trás dessa calma podem estar vários traumas."Perdi meu pai, meu cachorro, meu carro, minhas economias. Perdi tudo. Mas todos estão na mesma situação. Se eu chorar, todos vão ficar tristes, então devo me conter", disse Kenichi Endo, 45 anos, refugiado em um centro de acolhida em Onagawa (nordeste), fechando os olhos e cerrando os punhos.
Uma terrível tragédia foi registrada no dia 11 de março no nordeste do Japão, atingido por um terremoto de magnitude 9 e por um tsunami gigante que causou a morte ou o desaparecimento de cerca de 28.000 pessoas.
Cinco semanas após a catástrofe, dezenas de milhares de pessoas evacuadas ainda vivem em abrigos provisórios, como escolas, dividindo um espaço reduzido com dezenas e até centenas de outras.
Nesses ambientes, a emoção é controlada e se manifesta apenas em momentos inesperados, quando um refugiado deixa escapar uma lágrima durante uma refeição, ouvindo música ou dormindo.
"A única coisa que eu quero é ter um espaço privado", disse Ken Hiraaki. "A noite, ouço pessoas gemendo, mas às vezes elas me acordam porque sou eu quem está gemendo".
A hesitação de muitos sobreviventes em expressar sua tristeza preocupa os especialistas, para quem esse bloqueio pode gerar depressão.
"Se não receberem um apoio psicológico apropriado, eles poderão sofrer de estresse pós-traumático", disse Ritsuko Nishimae, psicólogo da Médicos Sem Fronteiras em Minamisanriku, no coração de uma área devastada.
Por muito tempo ignorada no Japão, a depressão foi tratada de maneira sistemática apenas a partir dos anos 2000 nas grandes cidades, onde 900.000 pacientes são examinados a cada ano daquilo que é chamado pudicamente de "doença do coração".
Mas nos centros rurais devastados, o assunto continua sendo um tabu.
"Quando você diz ;psiquiatria;, as pessoas ficam constrangidas. Em vez de me apresentar como psicólogo, eu digo que sou médico", explicou Naoki Hayashi, que presta auxílio aos moradores retirados de Rikuzentakata.
No centro de Onagawa, poucos refugiados ousam procurar profissionais, que montaram uma sala de consultas parecida com uma cafeteria clássica para deixar os pacientes mais à vontade.
"Os japoneses não gostam de falar de si mesmos e de seus problemas com pessoas que não conhecem. Prefiro conversar com meus amigos e com a minha família", ressaltou Keiko Katsumata, de 57 anos.
"Um médico não resolverá meus problemas. Eu conheço a guerra, vi outras", afirmou Toshiko Sawamura, de 77 anos, considerando que as novas gerações são "mais frágeis".