Agência France-Presse
postado em 22/04/2011 11:59
CIDADE DO VATICANO - O Papa Bento XVI fez um apelo às autoridades iraquianas a ajudar os cristãos, ao mesmo tempo em que exortou os marfinenses a renunciar à violência, numa entrevista transmitida pela televisão, durante a qual falou longamente sobre o sofrimento, por ocasião da Sexta-Feira Santa.Num tom pessoal e grave, Bento XVI, do seu escritório no Vaticano, respondeu no canal público RAI a sete questões formuladas por pessoas de países e meios diversos, durante emissão de uma hora e meia, sob a forma de talk-show, que contou, também, com intervenções de teólogos e fiéis, ouvidos nas ruas de Roma.
Nas 2.000 questões que chegaram à RAI, foi feita uma pequena seleção: uma menina japonesa, uma mulher muçulmana da Costa do Marfim, estudantes cristãos de Bagdá, uma mulher italiana ao lado de seu filho em coma.
O programa foi gravado há uma semana na biblioteca do Palácio Apostólico.
Num dos momentos mais emocionantes, Bento XVI responde a uma japonesa de sete anos, que sentiu "a casa tremer muito" durante o sismo de 11 de março no Japão e que perguntou a ele por que as crianças tinham de sofrer.
"Querida Elena, cumprimento-a de todo o coração. Também eu me pergunto: por que isso aconteceu? Por que vocês têm de sofrer tanto, enquanto outros vivem comodamente?", respondeu o Papa.
"Não temos resposta, mas sabemos que Jesus sofreu como vocês, inocentes. Isso me parece muito importante, apesar de não termos respostas, mas Deus está ao seu lado", disse o Pontífice à menina.
Em resposta a sete estudantes iraquianos - quatro mulheres e três homens, Bento XVI disse que "as instituições" no Iraque e "todos aqueles" que tenham realmente possibilidade" devem "fazer alguma coisa" para ajudar os cristãos, ameaçados por islamitas a emigrar - evocando a série de atentados, como os de 31 de outubro passado, assumido pela Al-Qaeda, que fez 46 mortos, na catedral siríaca católica de Bagdá.
"Queremos um trabalho de reconciliação, de compreensão, igualmente com o governo, para ajudá-los num caminho difícil de recompor uma sociedade dilacerada", acrescentou.
O papa Bento XVI também pediu "a todas as partes" envolvidas no conflito na Costa do Marfim "a renunciar à violência e buscar o caminho da paz".
Ele respondeu, assim, a uma pergunta feita por uma mulher muçulmana da Costa do Marfim, Bintu, que se lamentava do conflito existente há anos nesse país africano.
"Estou triste por poder fazer tão pouco, mas convido todas as partes a renunciar à violência, a buscar as vias da paz. Para a recomposição de seu povo, não podem usar meios violentos, apesar de acharem que têm razão", disse.
Bento XVI também falou sobre a eutanásia, condenada pela Igreja.
Uma mãe italiana, filmada ao lado do filho em coma profundo há dois anos, falou sobre o seu "calvário": "Vossa Santidade, a alma de meu filho Francesco que está em estado vegetativo desde a Páscoa de 2009 abandonou seu corpo, uma vez que não está mais consciente, onde está ele agora?"
A alma de Francesco está "ainda presente em seu corpo", respondeu o papa.
Daqui a pouco, para a cerimônia no Coliseu da Via Sacra, uma religiosa italiana redigiu as meditações que devem ser lidas nas quatorze estações que lembram as etapas da paixão de Cristo, até sua morte na cruz.
A irmã Maria Rita Piccione, da Federação de freiras augustinas, deve evocar "a perseguição contra a Igreja de ontem e de hoje" que "mata cristãos em nome de um deus estranho ao amor e que ataca a dignidade".
A cruz será levada por homens e mulheres de diferentes nacionalidades, em especial uma etíope e uma egípcia. Bento XVI deverá carregá-las nas duas últimas estações.