postado em 23/04/2011 08:00
O governador da província japonesa de Fukushima, Yuhei Sato, anunciou ontem formalmente que, no que depender da sua autoridade, não permitirá que volte a funcionar a usina nuclear atingida pelo terremoto seguido de tsunami, em 11 de março. O perímetro de 20km em torno da central foi declarado ;zona proibida; pelo governo japonês, que restringiu severamente o acesso de ex-moradores à área. Segundo a agência de notícias Kyodo, o comunicado foi feito pelo governador ao presidente da Tokyo Electric Power Company (Tepco, empresa que opera a usina), Masataka Shimizu. O encontro entre os dois foi o primeiro desde o início da crise, com seguidos incidentes de vazamento radioativo. Duas solicitações anteriores do executivo tinham sido recusadas por Sato.No fim de março, a Tepco chegou a anunciar que fecharia quatro dos seis reatores de Fukushima 1, mas não esclareceu quais eram seus planos para os outros dois. Na reunião de ontem, o governador da província não apenas descartou que a central volte a operar. Sato também exigiu que a companhia compense economicamente os agricultores e pescadores prejudicados pela radioatividade emitida para o ambiente, assim como as fábricas afetadas pela evacuação da área e as empresas do setor de turismo da região. Ele pediu ainda que Shimizu melhore as condições de trabalho dos técnicos que tentam controlar os reatores danificados.
O presidente da Tepco prometeu que a empresa estabilizará os reatores ;o mais rápido possível;, para que os moradores retirados do entorno da central possam voltar para casa. Shimizu visitou um alojamento para desabrigados de Fukushima e pediu desculpas pelos problemas decorrentes do acidente. Depois, acenou com a possibilidade de pedir demissão quando a situação se normalizar: ;Pretendo assumir minhas responsabilidades (pela crise) no futuro;.
O governo japonês ampliou o alcance da zona de exclusão de 20km para incluir algumas pequenas cidades que estão ligeiramente além do perímetro definido. O secretário-chefe do gabinete e porta-voz, Yukio Edano, afirmou que cerca de 10,5 mil pessoas serão afetadas pela ampliação da área proibida, segundo a BBC Brasil. Os moradores de Iitate, Katsurao, Namie e parte de Kawamata e Minamisoma, localizadas na província de Fukushima, têm prazo até o fim de maio para deixar suas casas.
Orçamento
A dimensão da tragédia de 11 de março, com saldo ainda provisório de 28 mil vítimas, entre mortos e desaparecidos, além de 400 mil desabrigados, pode ser medida pelo orçamento que o governo aprovou para a reconstrução, com dotação total de quase US$ 50 bilhões. Trata-se do maior esforço de obras públicas realizado pelo país nas últimas seis décadas. Os gastos iniciais de 4 trilhões de ienes (US$ 48,5 bilhões) deverão ser seguidos por outros pacotes financeiros, mas ainda representam uma pequena quantia diante do custo total dos danos provocados pelo terremoto, calculados em até US$ 300 bilhões.
O primeiro-ministro Naoto Kan, criticado pela maneira como vem administrando a crise, afirmou que o Japão terá de emitir novos títulos governamentais para financiar os orçamentos extras ainda por vir, e sugeriu que permanecerá no cargo para comandar o processo. ;Sinto que era meu destino ser primeiro-ministro quando os desastres e o acidente nuclear aconteceram;, disse Kan, em coletiva de imprensa. ;Quero trabalhar pela reconstrução e apresentar um plano para a superação dessas duas crises. Ter essa visão em mente é meu desejo mais sincero, como político.;
Pretendo assumir minhas responsabilidades (pela crise) no futuro;
Masataka Shimizu, presidente da empresa que opera a central de Fukushima
A retomada das operações (da usina) é impossível. A ira da população chegou ao limite;
Yuhei Sato, governador de província de Fukushima