postado em 23/04/2011 08:00
Depois de passar por uma das maiores tragédias de sua história, o Japão enfrenta o desafio da reconstrução tratando de aprender com os próprios erros. O terremoto de 11 de março, que deixou quase 10 mil mortos, trouxe prejuízos imensuráveis e deve mudar a organização do país. Do outro lado do mundo, o Brasil acena com gestos de solidariedade e cooperação. Para o embaixador Akira Miwa, que há um ano assumiu a missão diplomática japonesa em Brasília, apesar dos milhares de quilômetros de distância, a ligação entre os dois países é muito forte. São dezenas de acordos bilaterais, especialmente em tecnologia, indústria e agricultura. Em entrevista ao Correio, o diplomata agradeceu o apoio do Brasil e revelou que, com a ameaça de vazamentos radioativos, o programa nuclear japonês deve ser revisto. O interesse por energias alternativas, em especial o etanol brasileiro, deve aumentar.
Terremoto
O Japão está muito agradecido com a solidariedade do povo e do governo brasileiro. Foi criado um conselho para discutir as melhores estratégias para a reconstrução. O trabalho pode durar alguns anos, mas, uma vez refeito, tem que ser uma comunidade nova e melhor. As operações para reconstruir as áreas atingidas devem trazer normalidade para quem vivia lá, mas isso deve demorar um pouco.
Usinas nucleares
Nós precisamos aprender as lições para o futuro. O Japão tem 54 usinas nucleares. É necessário localizar a origem do problema em Fukushima para saber o que podemos aprender. O Japão pretende difundir para o mundo todas as informações que obtiver sobre o acidente. A verdade é que ninguém esperava que um tsunami de 14m fosse atingir a usina. Mesmo assim, precisamos nos defender dos desastres naturais. Nosso programa nuclear deve passar por uma revisão.
Energia
Naturalmente, o Japão precisa importar energia e dependemos muito do petróleo, que vem, na maior parte, dos países árabes. Ainda precisamos decifrar outros tipos de energia. Estamos interessados em qualquer tipo de energia que o Brasil possa produzir. Já existem investimentos de empresas japonesas no setor. Estamos interessados no etanol, mas ainda se consome muito pouco no Japão: em 100% de gasolina, temos apenas 3% de álcool.
Barreiras aos alimentos
O governo japonês é muito responsável, especialmente quando se trata da saúde pública. Já tomamos medidas para fiscalizar os alimentos nas áreas afetadas pela radiação. Se alguma contaminação é detectada, impedimos a circulação do produto. Os brasileiros podem ficar tranquilos, porque temos todo o cuidado. Mas nós exportamos poucos alimentos para o exterior, especialmente para o Brasil.
Brasil e Japão
Estamos muito ligados pela imigração japonesa, que começou no Brasil há mais de 100 anos, e pela comunidade brasileira que vive no Japão. A química entre os dois países vai muito bem. Nossa relação é baseada na confiança. Apesar de estarmos do outro lado da Terra, temos os mesmos valores e as mesmas estratégias.
Futuro das relações
Daqui em diante, a ideia é trabalharmos unidos para o bem estar da comunidade global. O Japão investiu na tevê digital também para levar essa tecnologia a outros países. Com o Brasil, vamos fazer uma extensão do projeto agrícola implementado aqui no cerrado e levar para Moçambique. Nosso projeto é melhorar o sistema global e incentivar a reforma das Nações Unidas.