Agência France-Presse
postado em 24/04/2011 09:59
Damasco - Milhares de pessoas participaram sem incidentes neste domingo (24/4) dos funerais dos mortos pela repressão, segundo testemunhas, enquanto os serviços de segurança realizaram nestes últimos dias uma onda de prisões nas filas de opositores do regime.Milhares de moradores da província de Deraa, onde nasceu o movimento de revolta no sul do país, enterraram cinco sírios depois das orações. Uma manifestação foi realizada posteriormente sem que as forças de segurança interviessem, explicou um militante. A maioria dos comércios fechou em sinal de luto.
No sábado, ao menos 13 pessoas morreram por disparos em várias cidades do país, entre elas cinco em Deraa, quando participavam do funeral das vítimas da repressão da véspera nos protestos contra o regime sírio, que deixaram ao menos 82 mortos.
Enquanto o movimento de revolta sem precedentes iniciado em 15 de março não se dilui, o regime continua reprimindo as manifestações, apesar de suas promessas de reformas, como a aprovação da lei do estado de emergência, segundo opositores e ONG internacionais.
Os serviços de segurança mobilizaram-se até várias cidades da Síria para prender militantes hostis ao regime, denunciaram testemunhas e a oposição síria.
"Dezenas de prisões" ocorreram em várias cidades, afirmou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, sediado em Londres, que forneceu os nomes de 15 presos no leste do país.
A organização denunciou "a continuação da política de prisões arbitrárias, apesar do fim do estado de emergência" e pediu "uma investigação independente sobre os assassinatos cometidos durante as manifestações".
As autoridades sírias libertaram neste domingo o presidente do Comitê de Defesa das Liberdades e Direitos Humanos, Daniel Saud, que tinha sido preso no sábado em sua casa em Banias, noroeste do país, informou o ativista Ammar al Qurabi.
As prisões também ocorreram na capital síria e nos arredores, durante incursões aéreas dos serviços de segurança, segundo testemunhas e outros militantes, que não forneceram nem o nome nem a identidade das pessoas presas.
Outras testemunhas afirmaram que as estradas que levam aos "setores quentes" próximos a Damasco foram fechadas à noite. Além disso, foram instalados postos de controle para verificar a identidade das pessoas que circulam e autorizar apenas o acesso de residentes às regiões onde os protestos ocorriam.
Neste domingo, dezenas de veículos transportaram pessoas entre Deraa e Nawa para participar dos funerais de quatro pessoas mortas na véspera, disse um opositor.
Estes levaram bandeiras sírias e cartazes com inscrições que pediam "a supressão do artigo 8 da Constituição" (sobre a supremacia do partido único Baas), completou o opositor, que não revelou sua identidade.
As autoridades sírias continuam denunciando mortes nas filas da polícia ou do exército por "grupos armados", aos quais atribuem o movimento de revolta.
Na sexta-feira, depois que o regime levantou o estado de emergência na véspera, ocorreu o maior dia de prostestos desde o início do movimento de contestação, durante o qual morreram ao menos 82 pessoas, entre elas crianças e idosos, segundo militantes e opositores.
Um grupo da oposição divulgou uma lista com os nomes de 112 mortos, dos quais uma minoria não pôde ser identificada.
Desde 15 de março, mais de 310 pessoas morreram devido aos acontecimentos violentos na Síria, segundo a Anistia Internacional.