Renata Tranches
postado em 30/04/2011 10:05
Há exatamente seis anos e 28 dias, a Praça São Pedro, no Vaticano, recebia centenas de milhares de fiéis em oração por João Paulo II, que havia acabado de morrer. Naquela dia, as vozes em um só coro pediam ;santo súbito;, pela santificação imediata do pontífice. Hoje, os devotos começam a voltar àquele espaço para assistir, amanhã, ao primeiro passo para a realização deste desejo: a beatificação do homem que liderou a Igreja Católica entre 1978 e 2005.O complexo processo de canonização foi iniciado pelo sucessor de João Paulo II, o papa Bento XVI, logo após a morte. No início deste ano, o Vaticano reconheceu como milagre a cura inexplicável da religiosa francesa Marie Simon-Pierre ; que sofria de mal de Parkinson ; e abriu o caminho para a beatificação. Após a celebração de amanhã, João Paulo II receberá o status de beato e ficará mais perto da santificação, vinculada à confirmação de um segundo milagre intercedido por ele.
Estima-se que algo entre 300 mil e 1 milhão de pessoas assistam à cerimônia de domingo, mas muitas já acompanham os eventos oficiais desde a noite de ontem. A Prefeitura de Roma cuidou de diversos preparativos para receber os peregrinos, como colocar mais 5 mil ônibus em circulação, 1,2 mil lixeiros trabalhando ininterruptamente neste fim de semana e 2,5 mil voluntários na distribuição de 1 milhão de garrafas de água. Além disso, pessoas treinadas auxiliarão os visitantes a se deslocar pela cidade, entregando panfletos com informações importantes sobre a capital italiana. O prefeito de Roma, Gianni Alemanno, anunciou ainda um forte esquema de segurança para amanhã.
A fé no papa peregrino leva católicos do mundo inteiro à praça onde tantas vezes ele falou a seus fiéis, em quase 27 anos de papado. O casal de goianos Marcos e Carlota Cordeiro, que vive há 42 anos em Brasília, esteve em alguns desses momentos e não poderia deixar de participar da missa de beatificação. Como a maioria dos católicos, eles esperavam pela celebração e há muito tempo planejavam a viagem. ;Quando houver a santificação, se Deus quiser, eu e minha mulher estaremos lá novamente;, afirmou Marcos no início desta semana. Ele e a mulher embarcaram anteontem em um grupo que acompanha o arcebispo emérito de Brasília, Dom José Freire Falcão, a Roma.
Marcos, 66 anos, engenheiro civil aposentado, admira João Paulo II pelo respeito que o então chefe da Igreja Católica tinha com outras religiões e pelo sacrifício, já no fim da vida, de tentar se comunicar com os fiéis até o último momento. ;Tenho muita fé e acredito que ele realmente pode ser santo.;
Em uma de suas idas ao Vaticano, por ocasião dos 50 anos de sacerdócio de Dom Falcão, o casal teve a oportunidade de estar com João Paulo II. Ao falar sobre esse instante, o engenheiro se emociona. Com a voz embargada, ele contou que jamais esquecerá a cena. ;A emoção de conhecê-lo é muito grande. A canonização dele significa um reconhecimento pela vida santa que teve.;
Também comovida, Carlota relembrou o encontro e afirmou ser impossível conter as lágrimas. ;É impressionante o magnetismo que ele tinha, com aquele olhar verde azulado tão bonito.; Aos 64 anos, a professora aposentada sempre pede, em suas orações, pela santificação do pontífice. Para ela, o fato de poder existir um santo que ela conheceu pessoalmente é extraordinário. ;A gente nem imagina que isso vá acontecer na vida;, empolga-se.
Autor de atentado está feliz
O turco Mehmed Ali Agca, que tentou matar o papa João Paulo II, disse estar ;muito feliz; com a beatificação do pontífice. Em entrevista à agência de notícias Ansa, ele afirmou que gostaria de participar da cerimônia de amanhã, mas o governo italiano não lhe deu permissão para entrar no país. ;Eu, Ali Agca, proclamo João Paulo II a melhor pessoa do século passado. Espero, em um futuro próximo, poder visitar o túmulo do pontífice e o Santuário de Fátima.;
Ali Agca atirou contra João Paulo II em plena Praça São Pedro, no Vaticano, em 13 de maio de 1981. O polonês Karol Wojtyla ficou gravemente ferido, principalmente por conta dos ferimentos causados pelos tiros que o atingiram na região do abdome. João Paulo II o perdoou ainda no leito do hospital e o visitou na prisão em 28 de dezembro de 1983. O papa também recebeu a mãe do terrorista em 1985, no Vaticano.
O autor dos tiros foi detido em flagrante e, em 2000, foi extraditado da Itália para a Turquia, onde permaneceu preso por outros crimes cometidos antes do ataque contra o então chefe da Igreja Católica. Um deles foi o assassinato de um jornalista turco. Ali Agca ficou preso 29 anos e dois meses, no total, e foi solto em 18 de janeiro de 2010.