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Presidente do Equador tenta se legitimar em plebiscito no próximo sábado

Agência France-Presse
postado em 02/05/2011 21:31
Quito - O presidente do Equador, Rafael Correa, tentará legitimar-se em um referendo sobre emendas à justiça no próximo sábado (7/5), numa busca de contornar o fantasma da instabilidade política que ronda o país desde a rebelião policial que gerou a crise de 30 de setembro de 2010.

Correa, que já venceu cinco eleiçoes seguidas, desde que assumiu o poder em 2007, propôs o referendo dois meses depois do levante policial por reajustes salariais, que deixou dez pessoas mortas. Segundo o presidente, a revolta teria sido instigada por opositores para tentar derrubá-lo e até assassiná-lo.

A oposição nega essas denúncias e tem promovido o "Não" no referendo através de várias frentes, alegando que o presidente socialista busca controlar o poder judiciário e restringir direitos e liberdades ao impor limites aos bancos de investimento e aos meios de comunicação, assim como restrições à imprensa.

O referendo propõe dissolver temporariamente o Conselho Judiciário para que uma comissão com um delegado do governo reestruture o setor e limite a liberdade condicional dos presos. O governo defende a consulta, alegando que a justiça vive uma crise que incentiva a insegurança -que admite ser seu calcanhar de Aquiles- mas, ao mesmo tempo, reconhece que será um plebiscito sobre sua gestão, no qual espera receber um voto de confiança da população.

"Cerca de 24% das pessoas vão votar ;sim; porque é o que o governo sugere, e cerca de 12% vão optar pelo ;não; com o mesmo argumento. Uma parte da população vota em função da confiança, mas isso pesa em todos os lados", afirmou Correa na noite de domingo, sem informar a origem desses dados.

"Se tivemos quatro anos de boa gestão, as pessoas vão querer que essa política tenha sequência", acrescentou o presidente, que descartou negociar com a oposição de direita caso venha a sofrer um revés no referendo. "Se perdermos, esqueça, preferiremos ir pra casa (nos demitir) do que vacilar diante da ;partidocracia;", afirmou durante a campanha.

A gestão de Correa tem a aprovação de cerca de 65% dos equatorianos, diante de cerca de 32% de reprovação, segundo uma pesquisa da empresa Santiago Pérez, divulgada no último dia 16 de abril.

Apesar de a popularidade do presidente ter subido após a rebelião policial, o episódio significou uma ruptura forte no processo de acumulação de legitimidade com os triunfos sucessivos nas eleições anteriores", analisou Hernán Reyes, cientista político da Universidade Andina. Além disso, a insurreição criou incertezas em alguns setores e entre agentes econômicos e reavivou o temor de volta da instabilidade vivida pelo país entre 1996 e 2007, quando o país teve oito presidentes, dos quais três foram depostos, afirmou Reyes à AFP.

"Este chamado busca gerar um voto de confiança para o presidente e pode ser aproveitado para assegurar algumas linhas estratégicas ou ainda minar sua credibilidade", acrescentou. "Caso o presidente vença, ele recobrará a força política e a legitimidade, que foram golpeados em 30 de setembro", afirmou o diretor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), Adrián Bonilla, observando ainda que "uma vitória ampla legitimará as políticas passadas e futuras de Correa".

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