postado em 04/05/2011 08:00
Sob severas críticas e protestos de Israel, os movimentos rivais palestinos Fatah, que governa a Cisjordânia, e Hamas, que controla a Faixa de Gaza, ratificaram ontem, no Cairo, um acordo de reconciliação que põe fim a quatro anos de divisão política. Anunciado na semana passada, o pacto, alcançado com a mediação das autoridades egípcias, prevê a criação de um governo transitório de unidade para os dois territórios, substituindo as administrações lideradas separadamente por cada um dos grupos. Dentro de um ano, os palestinos terão eleições. Representantes de 13 grupos assinaram o documento, incluindo os movimentos Jihad Islâmica, Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), Frente Democrática de Libertação da Palestina (FDLP) e Partido do Povo Palestino. ;Assinamos o acordo porque, apesar de termos nossas reservas, nos importa sobretudo o interesse nacional;, declarou à televisão egípcia Walid al-Awad, membro do comitê político do Partido do Povo. ;Os palestinos de Gaza e da Cisjordânia vão festejar. Temos que trabalhar para que o acordo seja aplicado.;
A reconciliação tomará caráter oficial hoje, durante uma cerimônia que contará com a presença do presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, e do líder do Hamas no exílio, Khaled Meshaal, que vive na Síria. Também participarão da solenidade o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Mussa, o ministro egípcio das Relações Exteriores, Nabil Al-Arabi, e o chefe da inteligência egípcia, general Murad Muafi.
Pressão de Israel
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, condenou a reconciliação entre as facções palestinas e voltou a repetir que Mahmud Abbas deve renunciar ao pacto com ;os terroristas; em favor da paz com Israel. ;O acordo entre o Fatah e o Hamas, que pede a destruição do Estado de Israel, só pode causar preocupação aos israelenses e a todos aqueles que, no mundo inteiro, aspiram a que se chegue à paz entre nós e nossos vizinhos palestinos;, assinalou.
Netanyahu, que deve viajar em breve a Londres e Paris, pensa em usar a reaproximação entre Fatah e Hamas como argumento para convencer as potências ocidentais a não reconhecer um Estado palestino independente antes de um acordo com Israel. O governo francês já deu sinais de que estuda adotar essa posição, e ontem o chanceler Alain Juppé elogiou a reconciliação palestina. Ao se reunir, em Jerusalém, com Tony Blair, o enviado especial do Quarteto (ONU, Estados Unidos, União Europeia e Rússia) para o Oriente Médio, Netanyahu acrescentou: ;Esse acordo representa um golpe muito duro no processo de paz;.
A declaração do premiê israelense foi considerada pelo Fatah uma ;interferência inaceitável; em assuntos internos palestinos. ;(Netanyahu) precisa respeitar o desejo do povo palestino;, afirmou Azzam al-Ahmad, chefe da delegação do Fatah no Cairo. Os detalhes do acordo foram acertados na quarta-feira passada, num encontro na capital egípcia entre Azzam Al-Ahmad e Mussa Abu Marzuk, o segundo na direção política do Hamas, concluindo um ano e meio de negociações. Para os palestinos, o pacto é fundamental para a criação de um Estado independente nos territórios, ocupados por Israel desde a guerra de 1967.
O racha entre os dois movimentos palestinos começou a se desenhar em 2006, quando o Hamas venceu as eleições legislativas, acabando com a hegemonia do Fatah. No ano seguinte, um breve e violento conflito resultou na tomada do controle da Faixa de Gaza pelo Hamas.