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Casa de Bin Laden no Paquistão põe guerra sob suspeita

Diretor da CIA revela que os EUA não informaram o país aliado sobre operação contra Bin Laden, por medo de a missão fracassar

postado em 04/05/2011 08:24
Garoto colhe resquícios do tiroteio que matou Bin Laden, diante da mansão que foi ocupada pelo terrorista, em Abbottabad

Eles mantêm uma aliança cada vez mais fragilizada, calcada na guerra ao terror. Até o fim de junho, os Estados Unidos devem repassar ao Paquistão US$ 981 milhões ; US$ 600 milhões como recompensa a Islamabad pelos serviços prestados contra os extremistas. Mas o fato de Osama bin Laden ter sido morto em Abbottabad, a apenas 60km da capital paquistanesa, estremeceu as relações entre os dois governos. Em entrevista à revista Time, Leon Panetta, diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), revelou que os EUA não informaram a Islamabad sobre a Operação Gerônimo, destinada à captura do líder da Al-Qaeda, por temor de que o país pudesse alertar Bin Laden sobre a ofensiva iminente. ;Qualquer esforço por trabalhar com os paquistaneses poderia colocar em risco a missão: eles poderiam alertar os alvos;, admitiu o chefe da inteligência norte-americana. Os analistas da CIA tinham entre 60% e 80% de certeza de que o terrorista estaria na mansão.

John Brennan, assessor de segurança contra o terrorismo da Casa Branca, confirmou ontem que agentes dos EUA encontraram possíveis segredos escondidos na residência em Abbottabad. ;Vamos estudar as informações com muito cuidado, cada dado pode levar a outros líderes da Al-Qaeda, e descobrir como era a sua rede de apoio no Paquistão;, explicou à rede de tevê ABC. Ele revelou que generais paquistaneses iniciaram uma investigação própria, cujo objetivo é determinar como Bin Laden vivia a pouco menos de 1km da Academia Militar de Kakul, a maior do país. ;Eles estão tentando descobrir se há indivíduos dentro dos serviços de inteligência do Paquistão, ou militares que sabiam da residência de Bin Laden, e se deram ou não apoio ao líder da Al-Qaeda;, comentou Brennan. ;Certamente, há algum tipo de rede de apoio que dava assistência a Bin Laden e facilitava o contato entre eles e seus agentes operacionais;, acrescentou.

Por e-mail, Hasan-Askari Rizvi ; estrategista militar da Universidade do Punjab (em Lahore) ; afirmou ao Correio que não há evidências sobre a concessão de proteção a Bin Laden por parte de militares de seu país. ;Ninguém pode dar uma resposta sobre relações escusas entre o serviço secreto paquistanês ISI e grupos terroristas;, disse. Apesar de admitir a simpatia de agências de inteligência e de segurança por facções extremistas, ele descarta que os órgãos mantenham relações ativas com militantes e com radicais islâmicos. ;Os funcionários de um nível mais baixo do governo paquistanês podem ser favoráveis à Al-Qaeda e ao Talibã, mas essa relação é frágil. Os militares e os extremistas se toleram e não empregam a força bruta uns contra os outros;, observa.

Pressão

Para Hasan-Askari, a presença de Bin Laden no Paquistão exerce pressão sobre o presidente paquistanês, Asif Ali Zardari, no âmbito da caçada a líderes da Al-Qaeda e do movimento fundamentalista Tehrik-i-Talibani Pakistan (leia a matéria na página 16). ;As relações entre o Paquistão e os EUA não atingirão um ponto de ruptura;, aposta. O especialista explica que Islamabad precisa da assistência financeira e do apoio diplomático da Casa Branca. ;Já Washington necessita de Islamabad para as operações no Afeganistão.;

O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, reconheceu os esforços dos EUA em manter a aliança com o Paquistão. ;Estamos trabalhando muito duro, é uma relação complicada, mas importante, que foi posta à prova de muitas maneiras em anos anteriores e neste ano;, declarou. Zardari negou que seu país estava abrigando Bin Laden. ;Alguns na imprensa americana sugeriram que o Paquistão não teve vitalidade em sua luta contra o terrorismo, ou pior, que fomos dissimulados e protegemos os terroristas;, comentou. ;Tal especulação sem base pode ser excitante para os jornais, mas não reflete a realidade.;

Obama ganha popularidade

A execução do terrorista Osama bin Laden valeu ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, um aumento de nove pontos percentuais em seu índice de popularidade. Uma pesquisa realizada na tarde de segunda-feira pelo jornal The Washington Post e pelo instituto Pew Research Center revela que 56% dos norte-americanos avalizam o trabalho do presidente. Trata-se da maior taxa de aprovação desde 2009. Mais de 75% dos entrevistados afirmaram que Obama merece os créditos pela morte do líder da Al-Qaeda.

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