Agência France-Presse
postado em 10/05/2011 15:22
Washington - A tensão aumentou ainda mais nesta terça-feira (10/5) entre Paquistão e Estados Unidos, com a última escaramuça envolvendo o interrogatório das esposas de Bin Laden, após a polêmica sobre uma eventual cumplicidade paquistanesa com o líder da Al-Qaeda e a ação "unilateral" americana em território paquistanês.Em sinal de boa vontade, a Casa Branca pediu no domingo permissão para interrogar três esposas de Osama bin Laden, em poder dos paquistaneses desde o ataque das forças especiais americanas que terminou com a morte do líder da Al-Qaeda.
Na segunda-feira à noite, uma autoridade americana indicou sob anonimato que os Estados Unidos "esperam ter em breve uma autorização de acesso" às três mulheres, das quais uma ficou ferida no ataque.
Mas nesta terça, o Ministério paquistanês das Relações Exteriores assegurou "não ter recebido uma solicitação formal dos Estados Unidos" neste sentido.
"Até o momento, nenhuma decisão foi tomada" relativa a uma autorização de acesso às esposas de Bin Laden para os investigadores americanos, indicou à AFP uma autoridade militar paquistanesa, que pediu para não ser identificada.
"A família está sob cuidados. Eles estão em detenção provisória", acrescentou. As três mulheres estão acompanhadas de 13 filhos e de netos do líder da Al-Qaeda.
Um novo foco de tensão parecia surgir para prejudicar mais ainda as já conturbadas relações entre os dois países, aliados oficiais na luta contra o terrorismo depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.
No domingo, o presidente americano Barack Obama pediu a Islamabad que realize uma investigação sobre os "suportes" que teriam beneficiado o líder da Al-Qaeda dentro do Paquistão.
Segundo o New York Times desta terça-feira, o presidente americano havia ordenado inclusive que o comando encarregado da operação contra Bin Laden fosse grande o bastante para poder enfrentar militarmente as forças paquistanesas, em caso de resposta dos militares locais.
"Em razão de nossas dificuldades atuais com o Paquistão, o presidente não queria assumir risco algum", declarou um alto funcionário do governo citado pelo jornal.
Segundo Washington, o Paquistão não foi alertado da operação por temor de vazamentos.
Na segunda-feira, o primeiro-ministro paquistanês Yusuf Raza Gilani classificou "de absurdas" as especulações sobre uma eventual cumplicidade oficial, mas também anunciou uma investigação para esclarecer "como, quando e por que Osama bin Laden estava presente em Abbottabad", cidade localizada a duas horas de estrada da capital onde o homem mais procurado do planeta viveu, aparentemente, durante vários anos.
Ele ressaltou que o Paquistão é alvo desde 2007 de uma campanha de atentados que deixou quase 4.300 mortos realizada pela "Al-Qaeda e seus aliados" para punir o país por seu engajamento na luta contra o terrorismo em apoio a Washington.
Em mais um atentado, dois policiais, sendo uma mulher, foram mortos e cinco pessoas ficaram feridas nesta terça-feira na explosão de uma bomba diante de um tribunal do noroeste do Paquistão, em uma região próxima às zonas tribais, bastião dos talibãs e da Al-Qaeda.
Também nesta terça, Washington realizou um novo ataque de drones nesta mesma região, matando quatro insurgentes islamitas, de acordo com autoridades militares paquistanesas.
Esta campanha de ataques de drones é muito impopular no Paquistão e as autoridades de Islamabad protestam regularmente contra tais ações "unilaterais".
O porta-voz da Casa Branca respondeu : "não nos desculpamos pelas medidas que o presidente (Obama) tomou", classificando as relações com o Paquistão de "complicadas", mas "importantes".
Outro sinal da degradação das relações foi o recente anúncio do nome de um homem apresentado como o chefe da CIA no Paquistão pela imprensa paquistanesa. Mas a agência americana, que comandou a operação contra Bin Laden, não pretende retirar seu chefe no país.
A identidade dos agentes da CIA é confidencial e as suspeitas do vazamento recaem sobre o ISI.
De acordo com uma mensagem divulgada nesta terça pelo SITE, filhos de Osama bin Laden ameaçaram levar o presidente americano Barack Obama à justiça como "responsável" pelo destino de seu pai, eliminado em 2 de maio, considerando religiosamente "inaceitável" e "humilhante" que seu corpo tenha sido lançado ao mar.