postado em 12/05/2011 10:35
WASHINGTON - A morte de Osama Bin Laden reacendeu o debate sobre a retirada das tropas americanas do Afeganistão e as razões pela quais dezenas de milhares de soldados foram enviados às montanhas do país nos últimos 10 anos à procura dos membros da rede Al-Qaeda.O objetivo da intervenção mericana, iniciada semanas após os atentados de 11 de setembro de 2011, era caçar em seu próprio território os membros da rede extremista e o esconderijo do seu líder. Agora, uma década depois, 100 mil americanos e 44 mil soldados da Otan combatem os talibãs afegãos rebeldes.
Os combatentes estrangeiros da Al-Qaeda seriam menos de 200 no país, escreveu Leslie Ghelb, um ex-alto funcionario americano, em uma coluna publicada na segunda-feira no Wall Street Journal.
"Missão cumprida", sentenciou. Pelo menos no "necessário e possível".
"O Afeganistão já não é mais interessante em termos de segurança para os Estados Unidos. O país é o retrato do fracasso das elites políticas americanas ao considerar dois simples fatos: a ameaça da Al-Qaeda já não está mais concentrada neste campo de batalha e a luta contra os talibãs é sobretudo um assunto dos afegãos", considerou.
Os Estados Unidos e a Otan devem transferir a segurança às forças afegãs até o fim de 2014. No entanto, com a morte de Bin Laden, multiplicam-se as hipóteses de que a operação seria realizada agora no mês de julho, data anunciada pelo presidente Barack Obama para o início da retirada das tropas.
A retirada deve ser reduzida, se não simbólica, segundo a maioria dos analistas internacionais. O Wall Street Journal publicou na terça-feira que em julho acontecerá a saída de cinco mil militares e outros cinco mil o farão ao final do ano, mas o general David Petraus afirmou que se trata de mera especulação.
O comandante das forças internacionais no Afeganistão deve apresentar as suas recomendações ao presidente em breve.
A morte de Bin Laden "seguramente avivará o debate sobre o ritmo da retirada", acredita Robert Lamb, do Centro Estratégico de Estudos Interncionais (CSIS, na sigla em inglês), que é favorável à continuidade do compromisso americano.
"Apesar da morte de Bin Laden ser, sem dúvida, um acontecimento muito importante, ela é essencialmente simbólica do ponto de vista estratégico", justificou.
"E deixar os afegãos com um governo que não pode garantir a segurança do país seria repetir o erro que foi cometido no Paquistão há 20 anos", quando os Estados Unidos ignoraram a região após a retirada soviética do Afeganistão.
No mesmo sentido, os dois principais nomes da Comissão de Assuntos Exteriores do Senado, o democrata John Kerry e o republicano Richard Lugar, se opõem a qualquer retirada "arbitrária" ou "precipitada".
Mas existe a preocupação com o custo de uma guerra com a qual Washington previra gastar 107 bilhões de dólares em 2012, numa época em que o país enfrenta uma crise orçamentária.
"As posições sobre as consequências da morte de Bin Laden no conflito (com o Afeganistão) são coerentes com o que se pensava da guerra antes de sua morte", afirmou Stephen Biddle, analista do Conselho de Relações Exteriores, um centro de estudos.
Apesar de 59% dos americanos considerarem que a missão está cumprida e se dizerem a favor da retirada das tropas do Afeganistão - de acordo com uma pesquisa publicada na quarta-feira pelo USA Today - Barack Obama não está sob pressão popular ou do Congresso e não teria porque mudar sua estratégia.
"O presidente está tendo que tomar muitas decisões que poderiam levá-lo a mudar sua estratégia no Afeganistão, mas ao invés disso ele tem sido muito consistente", afirmou Biddle à AFP.