Agência France-Presse
postado em 14/05/2011 10:57
ISLAMABAD - O Parlamento paquistanês insistiu neste sábado que a ação americana que matou Osama Bin Laden não deve se repetir e que os ataques com aviões teleguiados contra alvos terroristas perto da fronteira com o Afeganistão devem ter fim.A resolução foi anunciada após 10 horas de debate no Parlamento, com discussões sobre a "ação unilateral americana em Abbottabad, a cidade do norte do país na qual os Navy SEALs mataram o líder da Al-Qaeda no dia 2 de maio.
O Paquistão ameaçou revisar a cooperação dos serviços de inteligência depois da revelação embaraçosa de que Bin Laden morava a um quilômetro de uma academia militar de Abbottabad, o que gerou especulações de cumplicidade.
O diretor do serviço de inteligência do país, Ahmad Shuja Pasha, apresentou um pedido de renúncia durante a sessão no Parlamento, mas o primeiro-ministro Yousuf Raza Gilani e o comandante do Exército, general Ashfaq Kayani, defenderam sua continuidade, segundo a imprensa.
O debate parlamentar aconteceu horas depois do movimento talibã do Paquistão ter reivindicado responsabilidade pelos ataques a um centro de treinamento paramilitar da polícia que matou 89 pessoas, no primeiro grande atentado para vingar a morte de Bin Laden.
O Parlamento também pediu ao governo que "nomeie uma comissão independente sobre a operação de Abbottabad, para estabelecer responsabilidades e as recomendações necessárias para garantir que tal incidente não volte a ocorrer".
Os congressitas ameaçaram ainda encerrar a cooperação logística com as tropas americanas baseadas no Afeganistão e condenaram os ataques com aviões sem piloto da CIA.
O Parlamento qualificou de "inaceitáveis" os ataques com "drones" dos Estados Unidos.
"Estes ataques com aviões não tripulados devem parar. Do contrário, o governo precisa considerar as medidas necessárias, incluindo a permissão de trânsito da Otan".
Lançada em 2004, a campanha de ataques com "drones" da CIA foi intensificada em meados de 2008 e nos últimos meses realiza bombardeios quase diários contra o território paquistanês.
Em 2010, mais de 100 ataques deixaram 670 mortos, incluindo vários civis.
Ao mesmo tempo, fontes do governo americano não identificadas afirmaram que arquivos dos computadores apreendidos pelo comando especial que matou Bin Laden contêm uma considerável quantidade de vídeos pornográficos, informa o jornal The New York Times.
O jornal, que não revela os nomes dos funcionários, afirma que as fontes se negaram a informar se havia evidência de que Bin Laden ou outras pessoas que moravam na casa onde o líder da Al-Qaeda foi morto adquiriram ou assistiram os vídeos.
A informação pode afetar a imagem de Bin Laden, fundador da Al-Qaeda, ante seus seguidores, segundo o NYT.
Bin Laden denunciou em 2002, em uma "carta ao povo americano", a sociedade dos Estados Unidos por sua exploração do corpo feminino, lembrou o jornal.
A sessão do Parlamento paquistanês é uma resposta à percepção da população de impunidade em relação à ação americana, ao mesmo tempo que muitos questionam se os militares do país foram muito incompetentes para descobrir que Bin Laden morava perto de um centro de treinamento oficial ou, ainda pior, se conspiraram para proteger o terrorista.
Para completar, o ex-presidente Pervez Musharraf anunciou planos para retornar ao país no próximo ano para disputar as eleições.
Musharraf vive em Londres, mas é procurado pela justiça por uma investigação sobre o assassinato em 2007 da ex-premier Benazir Bhutto.