Agência France-Presse
postado em 18/05/2011 16:36
Nova York - A suposta vítima de agressão sexual rejeitará na Justiça qualquer tese de relação "consentida" com o acusado, o diretor do FMI Dominique Strauss-Kahn, preso em uma penitenciária de Nova York e sob pressão crescente para abandonar o cargo."Não há nenhum consenso sobre o que aconteceu naquele quarto de hotel", disse esta quarta-feira (18/5) o advogado da mulher, cuja denúncia levou, no sábado, à prisão do chefe do Fundo Monetário Internacional.
"Quando o júri ouvir seu testemunho e a vir pessoalmente e quando ela finalmente puder aparecer publicamente e contar sua história", será evidente que "as afirmações de sexo ou encontros consentidos não são verdadeiras", disse Jeff Shapiro à emissora NBC.
Os advogados de Strauss-Kahn, que prometeram uma "vigorosa" defesa, sugeriram na segunda-feira, em audiência no Tribunal Penal de Nova York, que pode ter havido um encontro sexual consentido.
Os investigadores, no entanto, afirmam haver evidências físicas - inclusive um exame médico feito imediatamente após a denúncia - que demonstram tentativa de estupro.
A promotoria indiciou Strauss-Kahn por sete acusações, entre elas ato sexual criminoso, tentativa de estupro, cárcere privado, de uma "mulher negra de 32 anos", funcionária do hotel nova-iorquino Sofitel de Manhattan, onde ele estava hospedado.
Strauss-Kahn, que passou a segunda noite na prisão nova-iorquina de Rikers Island, espera agora que um júri popular de 23 pessoas decida se o considera culpado de tentativa de estupro e agressão sexual.
O "grande júri", que se reúne secretamente para ser informado das provas da promotoria, deve tomar uma decisão antes de uma audiência prevista para a sexta-feira, 20 de maio.
Caso seja considerado culpado, o socialista francês de 62 anos deverá se apresentar perante o juiz e se declarar culpado ou inocente das acusações.
À sua complicada situação judicial, Strauss-Kahn somava na quarta-feira a pressão crescente no plano institucional depois que o secretário do Tesouro americano pôs em dúvida sua capacidade para continuar à frente do FMI.
"Obviamente não está em posição de dirigir o FMI", disse Timothy Geithner, em sua primeira declaração pública sobre o caso, citada pela agência financeira Dow Jones Newswires.
O americano John Lispky, primeiro adjunto de Strauss-Kahn, ficou interinamente à frente do FMI. A instituição havia informado na terça-feira que seu diretor-gerente não tem imunidade diplomática e que ainda não se comunicou com ele.
Enquanto isso, na França, Jean François Coppe, um dos líderes da União por um Movimento Popular (UMP), do presidente francês, Nicolas Sarkozy, considerou na quarta-feira que o FMI deve "resolver" a substituição de Strauss-Kahn "nos próximos dias".
Por sua vez, um dos advogados de defesa, William Taylor, se negou a dizer nesta quarta-feira quais eram as intenções de seu cliente com relação ao seu cargo no FMI.
A prisão de Strauss-Kahn sacudiu todo o meio político francês a um ano das eleições presidenciais, para as quais ele se colocava como o candidato do Partido Socialista.
De qualquer forma, 57% dos franceses pensam que ele é "vítima de complô", segundo pesquisa de opinião do instituto CSA, publicada esta quarta-feira.
Strauss-Kahn nega as acusações, mas a justiça negou libertá-lo sob fiança, alegando risco de fuga.
O suspeito está em uma cela individual, sem contato com os outros presos, e sob vigilância especial para evitar um eventual suicídio. Isto significa que ele é controlado a cada 15 ou 30 minutos e veste macacão e sapatos sem cadarços, informou uma fonte não identificada ao canal NBC.
Segundo o relato dos investigadores, a denunciante entrou no meio-dia de sábado no quarto 2806 do hotel Sofitel, acreditando que estava vazio, quando na verdade Strauss-Kahn tomava banho.
Ao sair do chuveiro, ele "se aproximou dela por trás e a tocou de forma inconveniente" e "a obrigou a cometer ato sexual", acrescentaram.
A promotoria sustentou, na segunda-feira, que Strauss-Kahn deixou apressadamente o hotel para ir ao aeroporto JFK de Nova York, onde foi detido a bordo de um avião da Air France que se preparava para decolar rumo à França.
Mas o advogado de defesa, Benjamin Brafman, deu uma interpretação diferente. "Estava apressado porque tinha um almoço marcado", disse Brafman, que também foi advogado do cantor Michael Jackson.