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Presidente russo Dmitri Medvedev adverte ocidente para volta à Guerra Fria

Agência France-Presse
postado em 18/05/2011 16:58
Moscou - O presidente russo Dmitri Medvedev advertiu mais uma vez, esta quarta-feira (18/5), para um retorno à Guerra Fria, caso o Ocidente não envolva a Rússia na defesa antimísseis na Europa, mesmo que os especialistas considerem que Moscou não tem nem os meios, nem a real intenção de participar.

Se os Estados Unidos continuarem desenvolvendo seu projeto de escudo antimísseis no Leste Europeu sem incluir a Rússia, Moscou deverá "tomar medidas em represália, o que verdadeiramente preferiríamos evitar", advertiu Medvedev, durante entrevista coletiva no subúrbio de Moscou.

"Seria o caso, então, de desenvolver o potencial ofensivo das nossas capacidades nucleares. Seria um cenário que faria voltar à época da Guerra Fria", disse para 800 jornalistas, em sua primeira entrevista coletiva desta proporção desde que chegou ao Kremlin, em 2008.

Os Estados Unidos reagiram imediatamente, voltando a assegurar que o escudo que está sendo implantado na Europa não é dirigido à Rússia e que Washington tem a intenção de "cooperar" com Moscou sobre este tema.

"Passamos muitos anos dizendo claramente que nossa cooperação na defesa antimísseis não está, de forma alguma, dirigida contra a Rússia", declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Mark Toner.

Nos últimos anos, a Rússia repete insistentemente que quer ser membro de pleno direito do sistema antimísseis na Europa e rejeita que um escudo controlado apenas pelo Ocidente cubra uma parte do território russo. Medvedev pediu que os "convidassem a cooperar".

Até agora, os ocidentais não responderam à demanda russa, ao mesmo tempo em que afirmam que este escudo estava dirigido contra uma ameaça iraniana e não contra Moscou, muito irritado pelos projetos de instalações militares americanas em sua antiga zona de influência.

Desde 3 de maio, data da assinatura de um acordo entre os Estados Unidos e a Romênia para o deslocamento de elementos do futuro escudo neste país, Moscou exige que os Estados Unidos garanta que estas instalações não constituirão uma ameaça contra o potencial nuclear russo.

Em setembro de 2009, Washington havia anulado um primeiro projeto de escudo desenvolvido pela administração de George W. Bush que havia provocado a ira de Moscou, e anunciado uma nova versão, menos controversa, mesmo quando persistiam muitos desacordos.

Descontente com a evolução das conversações com Washington sobre esta questão, o presidente russo também ameaçou deixar o tratado russo-americano de desarmamento nuclear START, que entrou em vigor este ano depois de longas e difíceis negociações.

Mas segundo o especialista militar russo independente Alexandre Golts, as advertências de Medvedev são "ameaças gratuitas", já ouvidas antes.

"A indústria russa tem meios limitados" que não lhe permitiria se lançar em uma nova corrida armamentista como foi o caso durante a guerra fria, disse Golts.

"As autoridades no poder pensam que é possível, mas os analistas independentes consideram que são ameaças gratuitas", insistiu uma especialista do centro Carnegie na Rússia, Maria Lipman.

"Temos pouco êxito na área das altas tecnologias e de armamento, a ponto de sermos obrigados a comprar equipamentos militares no exterior", acrescentou a especialista, em alusão à aquisição recente, negociada por Moscou, de dois navios de guerra franceses classe Mistral.

Segundo a especialista, "Medvedev provavelmente quis mostrar às elites conservadoras russas que não baixava a guarda".

No ano passado, Moscou havia ameaçado deslocar mísseis de curto alcance Iskander em Kaliningrado, enclave russo às portas da União Europeia, em caso de riscos suplementares para a segurança da Rússia, vinculados à implantação do escudo americano.

Esta eventualidade não voltou a ser mencionada.

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