postado em 19/05/2011 08:17
A sorte do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, começa a ser jogada amanhã, em Nova York, durante uma audiência na qual a Justiça decidirá se ele pode deixar a prisão de Rikers Island. DSK, como é chamado o economista e ex-ministro francês, foi detido no sábado sob a acusação de ter tentado violentar uma camareira do hotel onde estava hospedado. Ontem, o advogado e pessoas próximas à suposta vítima rebateram a tese da defesa, de que teria havido ;sexo consentido;. Em outra frente, o Partido Socialista francês, que tinha no diretor do FMI seu candidato mais forte para desafiar o presidente Nicolas Sarkozy nas urnas em 2012, comemorou o resultado da primeira pesquisa feita após o escândalo: a esquerda continua liderando as intenções de voto.
Jeff Shapiro, advogado da camareira do hotel Sofitel que denunciou Strauss-Kahn, desmentiu para categoricamente a versão de que ela teria consentido na relação sexual. Outras pessoas próximas à mulher, que seria uma imigrante da Guiné, muçulmana e de 32 anos, reforçaram a posição de Shapiro e alegaram que ela estaria traumatizada com o episódio. Os promotores nova-iorquinos que atuam no caso garantem que haveria provas físicas da tentativa de estupro. Na audiência de amanhã, um grande júri decidirá se as evidências são suficientes para levar DSK a julgamento e examinará o pedido da defesa para que ele aguarde o processo em liberdade.
Desde a detenção, novas denúncias de abuso sexual por parte de Strauss-Khan surgiram na imprensa internacional. Ontem, o jornal britânico The Times publicou uma entrevista na qual uma jornalista, que não revelou seu nome, disse que o francês propôs a ela conceder uma entrevista em troca de favores sexuais. Ao jornal, ela relatou que DSK, à época ministro de Finanças, ligou para ela e quis ir até seu local de trabalho, o que ela recusou. ;Ele quase implorou;, disse. Na segunda-feira, a escritora e jornalista francesa Tristane Banon anunciou que apresentará denúncia de abuso contra o diretor do FMI, por um episódio ocorrido em 2002.
A situação deStrauss-Kahn no comando do Fundo também se complica, com pressão crescente para que ele se afaste, tanto nos EUA quanto na Europa. O advogado William Taylor, porém, negou-se a revelar as intenções de seu cliente. ;Não tenho comentários sobre isso;, respondeu, ao ser questionado sobre o tema pela agência France Presse.
Pesquisas
A sondagem divulgada ontem na França pelo instituto CSA sobre a eleição presidencial de 2012 foi a primeira que não incluiu o diretor do FMI entre os candidatos potenciais, e trouxe um alívio para o Partido Socialista, que perdeu com o escândalo seu nome mais forte. Segundo o levantamento, realizado no dia 16, 54% dos entrevistados acreditam que o PS pode vencer mesmo sem DSK.
A saída do favorito, que liderava as intenções de voto também para qualquer cenário de segundo turno, pode ajudar o presidente Nicolas Sarkozy, que se vê ameaçado pela ascensão da extrema direita. O ex-primeiro-secretário do partido, François Hollande, agora o favorito para vencer as primárias de outubro, aparece com 23% das preferências, um ponto à frente do chefe de Estado. A atual líder socialista, Martine Aubry, teria também 23%, porém está empatada com Sarkozy. Em ambos os cenários, a ultradireitista Marine Le Pen é a terceira colocada, com 20%.
O Brasil preocupado
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, enviou ontem uma carta aos colegas dos demais países do G-20 expressando preocupação pelas ;graves acusações; contra o diretor do FMI e ;compartilhar opiniões; sobre o destino da instituição. Mantega defende que um eventual sucessor seja escolhido com base ;no mérito, independentemente da nacionalidade;. E classifica como ;remotamente apropriado reservar esse importante cargo para um cidadão europeu;.