Agência France-Presse
postado em 24/05/2011 17:32
Cairo - O ex-presidente egípcio Hosni Mubarak e seus filhos, Alaa e Gamal, que são responsabilizados pela morte de manifestantes na revolta popular de janeiro e fevereiro e de enriquecimento ilícito, serão julgados, afirmou nesta terça-feira (24/5) a procuradoria do Egito.É a primeira vez na história do Egito que um ex chefe de Estado é levado à justiça.
Mubarak, de 83 anos, foi tirado do poder no dia 11 de fevereiro por uma revolta popular depois de três décadas no comando do país. Segundo os números oficiais, 846 pessoas morreram durante os 18 dias de revoltas sem precedentes que provocaram a renúncia do antigo líder.
"O procurador geral, Abdel Meguid Mahmud, decidiu hoje (terça-feira) indiciar o ex-presidente Hosni Mubarak e seus filhos, Alaa e Gamal, assim como o empresário Hussein Salem, que fugiram antes de um tribunal penal", afirmou a agência oficial Mena.
Os quatro são acusados de "homicídio premeditado", de "planejar o assassinato de alguns participantes das manifestações pacíficas da revolução de 25 de janeiro" e de terem abusado da posição do governo para enriquecerem.
Se for declarado culpado, Mubarak pode ser condenado à morte, afirmou o ministro da Justiça Abdel Aziz al Guindi no mês passado.
Contatado pela AFP, o advogado de Mubarak, Farid al Dib, recusou-se a comentar a decisão.
O tribunal decidirá a data do processo quando tiver recebido o registro da acusação que deve ser enviado nos próximos dias, informou uma fonte judicial da agência Mena.
Esta decisão ocorre enquanto jovens militantes pró-democracia organizam uma grande manifestação para sexta-feira exigindo o processo jurídico contra "os símbolos do antigo regime".
Informações do jornal independente Al Shoruk, segundo as quais Mubarak estaria preparando uma carta pedindo desculpas aos egípcios prometendo entregar seus pertences ao Estado com a esperança de obter uma anistia, provocaram a raiva em muitos egípcios.
Centenas de pessoas se reuniram na praça Tahrir, emblemática na revolta contra o regime, para exigir um processo contra o ex-chefe de Estado e dizer "não a uma reconciliação com assassinos e criminosos".
O exército, que dirige o país desde a renúncia de Mubarak, desmentiu que houvesse alguma intenção de anistiar o ditador. Os militares deram nas últimas semanas a impressão de hesitar na intenção de levar o ex-presidente à justiça.
Mubarak e seus filhos estão atualmente em prisão provisória. O ex-chefe de Estado se encontra no hospital de Sarm el Sheij, e Alaa e Gamal, na prisão de Tora, no Cairo.
O anúncio do processo "é uma decisão esperada pelos egípcios há muito tempo", disse à AFP Essam al Aryan, vice-presidente do Partido da Justiça e Liberdade, surgido na Irmandade Muçulmana.
"As duas principais acusações contra ele foram ter dado ordem ao ministério do Interior, e depois ao exército, de matar manifestantes, e sua política que destruiu o Egito e prejudicou sua posição, o que equivale a alta traição" disse.
A procuradoria geral pediu na semana passada que o ex-presidente seja novamente examinado para saber se o seu estado de saúde possibilita o translado a um hospital penitenciário
No sábado, uma fonte médica havia afirmado que ele estava deprimido e precisava de apoio psicológico.