Renata Tranches
postado em 27/05/2011 08:19
Com um discreto tom de ironia, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse ontem que acha ;interessante; o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ter se sentido na ;obrigação de explicar; o peso crescente das principais nações emergentes, entre elas o Brasil. O chanceler se referia ao discurso do mandatário norte-americano diante do Parlamento britânico, na véspera. Nele, Obama afirmou que países como China, Índia e Brasil estão ;crescendo aos saltos;, mas reafirmou que os Estados Unidos e seus aliados ocidentais continuam sendo ;a liderança; mundial.Para o ministro brasileiro, a intervenção de Obama é um reconhecimento, ainda que indireto, da importância dos emergentes. ;Não deixa de ser interessante que o presidente Obama e o primeiro-ministro (britânico) David Cameron se sintam na obrigação de explicar que existem outros atores no cenário internacional, que desempenham um papel importante na busca de soluções para os desafios globais;, declarou o chanceler ao lado da ministra de Assuntos Exteriores e Cooperação da Espanha, Trinidad Jiménez, que fez ontem visita a Brasília.
A fala de Obama, comentada por Patriota, coincide com um cabo de guerra entre os países ricos e os emergentes em torno de questões da governança global. A rivalidade ganha corpo no âmbito das discussões sobre a escolha do próximo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI). O cargo está vago desde o último dia 19, quando o francês Dominique Strauss-Khan renunciou para se dedicar à defesa no processo em que é acusado de tentar estuprar uma camareira em um hotel de luxo em Nova York.
Os emergentes pedem maior representatividade no organismo, devido ao aumento de sua participação na economia mundial. Mas os países ricos, que dominam o Fundo desde a sua criação, 1945, não abrem mão de manter o comando com um europeu. Na reunião de cúpula do G-8 (que inclui os sete países mais industrializados e a Rússia), na França, os representantes do bloco desenvolvido defenderam a candidatura da ministra francesa da Economia, Christine Lagarde. O presidente Nicolas Sarkozy foi o mais fervoroso defensor de uma candidatura europeia ; que, segundo ele, se justifica pela crise financeira na zona do euro.
Oficialmente em campanha, a ministra francesa iniciará ;nos próximos dias; uma viagem ao Brasil e à China, com o objetivo de defender sua candidatura. Lagarde pode incluir outros países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) no roteiro. O grupo criticou formalmente, em nota conjunta divulgada na terça-feira, a intenção da Europa de manter um dos seus à frente do FMI. Ontem, Patriota reiterou a posição brasileira sobre o tema e falou da ;necessidade de selecionar dirigentes do FMI com base no mérito;.
Espanha
O chanceler brasileiro e a colega espanhola se reuniram no Itamaraty para discutir temas de interesse mútuo. Eles destacaram a importância da cooperação triangular, pela qual os dois países desenvolvem projetos no Haiti, e as relações comerciais ; a Espanha está entre os cinco maiores investidores europeus no país. Sem dar detalhes, os ministros disseram que também trataram sobre imigração. Fontes do Itamaraty informaram, porém, que o Brasil reclamou do tratamento dado aos cidadãos ;recusados; pela imigração espanhola nos aeroportos. A chanceler teria dito que várias medidas já foram implementadas e que outros cuidados deverão ser tomados.