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Documentos sugerem que Bin Laden pensou em firmar acordo com o Paquistão

l-Qaeda cessaria ataques se governo garantisse proteção aos líderes da rede

postado em 28/05/2011 09:06
O terrorista saudita Osama bin Laden, líder da rede Al-Qaeda, chegou a pensar na possibilidade de firmar um acordo com o governo paquistanês. A informação, fornecida por uma autoridade norte-americana à rede de tevê CNN, baseia-se em documentos encontrados na casa onde o extremista foi morto pelas forças especiais dos Estados Unidos, em Abbottabad ; na região nordeste do Paquistão. Segundo a fonte, que exigiu anonimato, Bin Laden entrou em contato com Atiya Abdul Rahman, chefe de operações de sua organização, para estudar a viabilidade de um pacto. ;Isso parecia ser uma discussão dentro da Al-Qaeda;, afirmou a autoridade.

Os papéis recolhidos no refúgio indicam que Bin Laden cogitou propor a Islamabad que protegesse os líderes da Al-Qaeda baseados em território paquistanês. Em troca, os militantes de Osama evitariam atacar o país. Verdade ou não, a denúncia foi divulgada no momento em que a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, fazia uma polêmica visita-surpresa ao Paquistão.

Presidente Asif Ali Zardari recebe Hillary Clinton, secretária de Estado norte-americana, em Islamabad: encontro foi classificado de

Por e-mail, o francês Jean-Charles Brisard, especialista em Al-Qaeda e advogado dos sobreviventes dos atentados de 11 de setembro de 2001, afirmou ao Correio que a rede já teve várias oportunidades de firmar acordos semelhantes. Ele cita um pacto feito em 1995, por iniciativa da Arábia Saudita, época em que a Al-Qaeda passou a ser vista como uma ameaça real para o reino e seus recursos financeiros. ;O próprio Bin Laden reconhece que os representantes sauditas o encontraram para oferecer uma grande quantia de dinheiro, caso ele renegasse o terrorismo;, afirmou. ;Um acordo com o Paquistão talvez estivesse na mente de Bin Laden ou das autoridades paquistanesas. Ainda que a situação fosse mais complexa, com uma grande porção do território do Paquistão servindo de abrigo para o Talibã e a Al-Qaeda;, admite Brisard.

Hillary Clinton desembarcou pela manhã em Islamabad, acompanhada do almirante Mike Mullen, chefe do Estado-Maior conjunto americano. A secretária cumpriu uma agenda apertada: reuniu-se com o presidente paquistanês, Asif Ali Zardari; com o primeiro-ministro, Yusuf Raza Gilani; com o general Ashfaq Kayani, comandante do Exército; e com Ahmad Shuja Pasha, chefe dos serviços secretos (ISI).

Pouco menos de um mês após a morte de Bin Laden, a estratégia da comitiva norte-americana foi dúbia. Ao mesmo tempo que disse retornar a Washington ;ainda mais comprometida; com a relação EUA-Paquistão, Hillary apelou às autoridades por mais esforços no combate ao terrorismo. ;Ambos reconhecemos que há muito trabalho a fazer, e é urgente;, avisou. ;Muitos dos líderes do Talibã continuam vivendo aqui. E o Paquistão tem a responsabilidade de nos ajudar a auxiliar o Afeganistão, impedindo os insurgentes de começarem uma batalha a partir do território paquistanês;, acrescentou.

Preço alto
Ela admitiu que a população pagou um alto preço em vidas humanas por causa da guerra ao terrorismo e se negou a acusar Islamabad de acobertar o líder da Al-Qaeda. ;Não há absolutamente qualquer evidência de que alguém, nos mais altos níveis do governo paquistanês, soubesse que (Bin Laden) estava vivendo há poucos quilômetros de onde estamos agora;, ressaltou.

O encontro com Zardari foi descrito pela encarregada da diplomacia da Casa Branca como ;bastante amplo, aberto, franco e construtivo;. No entanto, jornalistas que cobriram o evento classificaram-no de ;duro e embaraçoso;. Desde 2007, o Paquistão foi sacudido por 480 atentados, que mataram cerca de 4,4 mil pessoas.

O estrategista militar paquistanês Hasan-Askari Rizvi considera a visita de Hillary uma tentativa de acalmar as tensões entre os dois aliados. ;Sua declaração representa a atual política dos EUA, que elogia os sacrifícios do Paquistão, mas busca uma maior cooperação para responder à Al-Qaeda e ao Talibã na região;, explicou ao Correio, por e-mail. Ele aposta que essa política de acenos e de pressões continuará. Hasan-Askari vê concessões importantes por parte do Paquistão.

;O governo permitiu que especialistas da CIA (agência de inteligência americana) visitassem a casa onde Osama foi morto.

Também concordou em retornar a fuselagem do helicóptero destruído pelas forças especiais dos EUA durante a operação;, comenta. ;Esses gestos mostram que ambos querem normalizar as relações.;

Por sua vez, Brisard acha que a posição ambígua do Paquistão em relação ao islã radical exige que Washington se engaje num diálogo constante. ;Essa visita pode fazer com que Islamabad endosse futuros ataques a líderes da Al-Qaeda, com base nos dados de inteligência coletados em Abbottabad;, disse o francês.

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