Agência France-Presse
postado em 29/05/2011 15:13
Cabul - O presidente afegão, Hamid Karzai, chamou neste domingo de "grave erro" e "assassinato" a morte, no sábado, de 14 civis em um bombardeio americano, lançando "uma última advertência às tropas dos Estados Unidos" e exigindo o fim de suas operações unilaterais.Quatorze civis afegãos, a maioria crianças, morreram no sábado quando helicópteros mobilizados para ajudar uma base da Otan atacada por rebeldes lançaram foguetes sobre duas casas na província de Helmand, bastião da insurgência, segundo as autoridades provinciais.
"Já foi dito em diversas ocasiões aos Estados Unidos e à Otan que suas operações unilaterais e inúteis causam a morte de afegãos inocentes, e que tais operações violam os valores humanos e morais, mas parece que não nos escutam", declarou Karzai em um comunicado oficial.
A nota, escrita em tom virulento fora do comum, afirma ainda que "o presidente classificou este incidente como um grave erro e como o assassinato de crianças e mulheres afegãs". Por fim, lança "uma última advertência às tropas e às autoridades americanas".
Karzai acusou as "tropas americanas" pela morte destes civis, embora as autoridades provinciais de Helmand tenham feito referência apenas a helicópteros da Otan.
Segundo o chefe de Estado afegão, 10 crianças, dois homens e duas mulheres foram mortos, enquanto seis outros civis ficaram feridos neste bombardeio.
Imagens transmitidas pela televisão local mostram homens carregando os corpos das crianças cobertos de poeira e apresentando-os aos jornalistas.
O comunicado presidencial não alude a um segundo ataque, ocorrido em Nuristan (nordeste), que também foi reportado no sábado.
O governador desta província montanhosa, onde a rebelião ganha cada vez mais força, indicou que 18 civis e 20 policiais haviam morrido em um ataque aéreo no dia 25 de maio, durante intensos combates entre as forças afegãs apoiadas pela Otan e os talibãs, que ameaçavam tomar posse de um distrito.
"Os policiais morreram atingidos por disparos fratricidas", afirmou Jamalddin Badar, enquanto "os civis foram mortos porque foram confundidos com os talibãs, vestidos com roupas civis, e que, sem munições, se refugiaram nas casas", relatou.
Neste domingo, um porta-voz da Casa Branca disse que os Estados Unidos levam "muito a sério" as preocupações de Hamid Karzai sobre as baixas civis no Afeganistão.
"O presidente Karzai já expressou em várias oportunidades sua preocupação com a perda de vidas humanas entre a população civil. É uma preocupação que compartilhamos e levamos muito a sério", declarou o porta-voz Jay Carney.
"Nosso exército no Afeganistão trabalha muito duro para fazer todo o possível para evitar baixas civis", acrescentou.
"Obviamente, coordenamos este trabalho com o governo afegão, com o exército afegão com este objetivo".
As forças da Otan no Afeganistão (Isaf) declararam estar "cientes" das alegações em Helmand e Nuristan, indicando que uma equipe de investigadores já foi enviada para apurar os incidentes e garantindo que suas conclusões serão publicadas.