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Alemanha anuncia que renunciará à energia atômica

País com a quarta maior economia do planeta vai aposentar as 17 centrais atômicas até 2022. Após classificar a medida de "irreversível", governo da primeira-ministra Angela Merkel precisa buscar fontes alternativas de energia

Renata Tranches
postado em 31/05/2011 07:40
Merkel recebe relatório da Comissão de Ética para Suprimento de Energia Segura, cercada por autoridades do setor: decisão corajosa e históricaA quarta maior economia do mundo anunciou ontem que abandonará a energia nuclear. Em uma decisão tomada após longa reunião, a Alemanha revelou que fechará as 17 usinas atômicas do país até 2022. É a primeira grande potência a tomar tal ação, classificada pelo governo de ;irreversível;. O governo formalizará a medida em 6 de julho e já desperta dúvidas sobre como o país vai repor essa fonte energética, que corresponde a 23% de sua matriz.

Segundo o ministro alemão do Meio Ambiente, Norbert Rottgen, 14 dos 17 reatores estarão desativados até o fim de 2021. Os três últimos ; os mais novos ; estarão em serviço até, no máximo, 2022. Após a catástrofe da central nuclear japonesa de Fukushima, em março, a Alemanha determinou o desligamento de sete reatores mais antigos do país da rede de produção de energia elétrica. A execução da ordem dependia apenas de uma auditoria solicitada pela primeira-ministra, Angela Merkel. Os sete reatores, além de outro que apresentou falhas, não serão reativados.

O governo chegou à deliberação após uma reunião de quase 13 horas, entre a noite de domingo e manhã de ontem, na qual participaram membros do gabinete, além de representantes dos partidos do governo e da oposição. ;Após longas consultas, a coalizão chegou a um acordo para dar fim ao recurso à energia elétrica;, declarou Rottegen. ;Nosso sistema de energia deve e pode ser fundamentalmente modificado;, salientou Merkel.

Berlim tem agora a missão de encontrar uma forma de produzir energia suficiente em outras fontes, a fim de substituir a atômica. Ontem, o governo não detalhou como pretende executar essa decisão. O Partido Verde, que viu sua popularidade disparar após o acidente nuclear no Japão, insiste na necessidade de recorrer às energias renováveis, ao invés das centrais de carvão. ;Não se trata apenas de saber como sairemos da energia nuclear, mas também a que velocidade, e com que ambição, ingressamos nas energias renováveis;, disse Claudia Roth, uma das líderes do Partido Verde, à imprensa.

Dona de uma economia que é uma verdadeira locomotiva, a Alemanha terá de equilibrar a transição de suas fontes energéticas sem deixar cair o ritmo de sua produção industrial, que cresce a 9% ao ano e mantém o país na 24; posição no ranking mundial. Para Estevão Martins, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em Alemanha, o governo resolveu bancar as implicações que envolvem a troca da matriz energética a correr o risco de um acidente nuclear. ;É uma decisão corajosa;, disse.

A Alemanha, que já esteve abaixo da média de utilização de energias renováveis da União Europeia, tem investido pesado no setor. Em 2010, a matriz nuclear representou 16,9% do consumo bruto de energia elétrica da Alemanha ; de acordo com o Departamento Federal de Estatísticas (Destatis), um índice quatro vezes maior que o registrado em 1990. Em 18 de maio, os ministérios de Economia, Meio Ambiente e Educação alemães anunciaram um programa de fomento à pesquisa e ao desenvolvimento de redes inteligentes de armazenamento e distribuição de eletricidade no valor de 200 milhões de euros. O investimento tem por objetivo otimizar a infraestrutura energética para comportar o aumento gradual da participação de energias renováveis.

[SAIBAMAIS]Promessa
Com a decisão de ontem, Merkel retomou uma das promessas mais importantes de seu segundo mandato. No fim do ano passado, a chanceler aprovou uma prorrogação de 12 anos em média para a duração legal da exploração dos reatores da Alemanha. A medida provocou uma forte reação no país, que se traduziu em grandes manifestações. A última delas foi no sábado e reuniu 160 mil pessoas em 20 cidades. Em março, no entanto, Merkel já havia determinado a paralisação imediata das centrais mais antigas, à luz da catástrofe nuclear de Fukushima. A medida foi considerada uma manobra oportunista e não impediu a derrota dos conservadores para os Verdes, nas eleições regionais de Baden-Württemberg, governado por eles há mais de 50 anos.

Relatório preliminar deve sair amanhã
A equipe de especialistas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da Organização das Nações Unidas deve divulgar amanhã (1;) um relatório preliminar sobre o acidente nuclear na usina de Fukushima, no Japão. As primeiras conclusões serão apresentadas ao governo japonês pela comitiva de peritos que visita a região. O relatório deve ser levado à Conferência Internacional sobre Segurança Nuclear, prevista para o próximo mês, em Viena (Áustria). A AIEA reconhece avanços nos esforços das autoridades japonesas para refrigerar os reatores, mas admite que a situação é instável.

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