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Bactéria altamente tóxica e letal começa a se espalhar pelo mundo

Cientistas chineses e alemães desvendam código genético de micro-organismo responsável pela morte de 18 pessoas na Europa. Doença resiste a antibióticos e é agravada pela liberação de toxinas no corpo. EUA registram três casos suspeitos

postado em 03/06/2011 08:10
Ela já contaminou mais de 2 mil pessoas, matou 18 na Europa, provocou danos às relações entre a Alemanha e a Espanha e pode ter chegado aos Estados Unidos. Cientistas chineses e alemães anunciaram ontem o sequenciamento genético da Escherichia coli, a bactéria que tem espalhado o medo pelo Velho Continente. De acordo com um comunicado do laboratório de biotecnologia BGI, em Shenhen (China), a infecção é provocada por uma cepa supertóxica e altamente contagiosa do micro-organismo.

O novo subtipo (veja quadro), seria o resultado de uma transferência genética horizontal ; uma mistura fromada por 80% dos genes da bactéria E. coli 0405, identificada em 2005 na Coreia, e 20% dos de outro tipo. ;Essa nova cepa (chamada de 0104:H4) adquiriu sequências genéticas específicas que parecem ser similares às envolvidas na patogenicidade da colite hemorrágica e da síndrome hemolítico-urêmica (SHU);, afirmou o BGI, que decifrou o genoma da bactéria com a ajuda de pesquisadores da Universidade de Hamburgo-Eppendorf. ;A cepa, isolada nos casos do surto infeccioso na Alemanha, nunca tinha sido vista antes em um surto;, declarou Gregory Hartl, porta-voz da Organização Mundial de Saúde (OMS).

O infectologista britânico Paul Wigley, professor do Instituto de Infecção e Saúde Global da Universidade de Liverpool, afirmou ao Correio que não está claro o motivo de Escherichia coli enteroagregativa (EAEC) 0104:H4 ser mais virulenta. ;Ao contrário das outras bactérias, que causam SHU em crianças e em idosos, a atual cepa atinge adultos saudáveis, e isso é incomum;, explicou. Segundo ele, a síndrome ocorre quando as toxinas da E. coli danificam os vasos sanguíneos e os rins ; o sangue se mistura à urina e o paciente pode desenvolver uma falência renal. ;Parece tratar-se de uma EAEC, que adquiriu toxinas de outra bactéria. A 0104:H4 pode provocar diarreia e sobreviver na comida. O Reino Unido anunciou a contaminação de três britânicos e de quatro alemães que retornaram recentemente da Alemanha.

A transmissão por meio de alimentos e da água tem deixado a Europa em polvorosa. Primeiro, acreditava-se que as infecções surgiram a partir dos pepinos importados da Espanha para a Alemanha. ;Ficou claro, com as análises da Agência Espanhola de Segurança Alimentar, que não há a mínima suspeita de que a origem desta infecção tão grave venha de um produto espanhol;, insistiu ontem o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero. Ele confirma que pedirá ;ressarcimento dos danos; causados pelo ;erro clamoroso; alemão de associar os alimentos espanhóis à epidemia. ;Vamos exigir (;) repatriação dos prejuízos;, disse Rosa Aguilar, ministra da Agricultura.

Após amargar prejuízos de 75 milhões de euros (cerca de R$ 171 milhões), Madri culpou Berlim pela epidemia. ;O governo federal alemão deve saber quem tem a responsabilidade global ante outros Estados na Europa;, alertou Zapatero. ;Vamos exigir explicações muito contundentes e desde já vamos exigir as reparações necessárias;, acrescentou. Na tarde de ontem, o premiê telefonou para a colega alemã, Angela Merkel, que ;lamentou os prejuízos causados aos produtores espanhóis; ; segundo um comunicado do governo espanhol. ;A chanceler prometeu que a Alemanha vai considerar fórmulas no marco europeu de indenizar os agricultores afetados;, concluiu a nota.

Estados Unidos

Três pessoas que viajaram recentemente dos Estados Unidos à Alemanha são suspeitas de terem contraído a bactéria Escherichia coli. Tom Skinner, porta-voz dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), disse à agência France-Presse que o organismo aguardava os resultados das amostras de sangue, antes de confirmar os casos. ;Felizmente, essa cepa não se espalha facilmente de pessoa para pessoa. Então, o risco para as populações do Hemisfério Ocidental é baixo;, admitiu à reportagem, por e-mail, o norte-americano William Schaffner, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Vanderbilt University (em Nashville, Tennessee).

Schaffner explica que a nova cepa produz uma infecção intestinal e uma toxina que entra no corpo e ataca órgãos vitais, principalmente os rins. ;Ainda não sabemos a fonte dessa nova cepa. Mas ela é provavelmente associada à comida;, admite. Segundo o especialista, a EAEC 0104:H4 ;fabrica; o ;veneno; em grandes quantidades, o que potencializa seu efeito devastador. ;Algumas pessoas ficam tão doentes que precisam ser submetidas à hemodiálise;, emenda.

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