Agência France-Presse
postado em 07/06/2011 15:23
LUXEMBURGO - A Comissão Europeia aceitou nesta terça-feira (7/6) revisar para cima de forma "substancial" sua proposta de destinar 150 milhões de euros para indenizar os produtores de verduras europeus cujas vendas caíram devido à epidemia da bactéria E.coli, apontada como a causa de mais duas mortes na Alemanha.Duas mortes atribuídas à bactéria foram anunciadas nesta terça-feira na Alemanha, elevando para 25 o número de vítimas na Europa, sendo 24 apenas no país. A informação foi confirmada por autoridades de saúde da região da Baixa Saxônia. As vítimas são mulheres, uma de 74 e outra de 88 anos, que faleceram respectivamente nas últimas terça e quarta-feiras. Ambas apresentaram os sintomas da síndrome urêmica hemolítica, doença marcada por uma grave insuficiência renal.
[SAIBAMAIS]Além dos 24 óbitos ocorridos na Alemanha, a Suécia registrou a 25; morte, uma mulher que foi infectada durante uma viagem àquele país.
A epidemia já afetou 13 países europeus, além dos Estados Unidos e Canadá, onde foram registrados casos suspeitos. A origem da contaminação, no entanto, ainda é um mistério. Após suspeitarem dos pepinos espanhóis, as autoridades sanitárias alemãs pensaram ter encontrado a fonte da contaminação em uma fazenda de brotos vegetais e sementes germinadas no norte do país. Mas os primeiros testes realizados nas amostras apontaram resultado negativo.
Em uma reunião extraordinária dos ministros europeus de Agricultura, o comissário a cargo do expediente, Dacian Ciolos, propôs criar um fundo excepcional de 150 milhões de euros para cobrir as perdas dos agricultores. A União Europeia propunha indenizar as perdas em 30%. Mas muitos países europeus consideraram que essa cifra não era satisfatória e exerceram "fortes pressões" para revisá-la para cima, segundo uma fonte diplomática.
Depois da reunião, o comissário Dacian Ciolos comprometeu-se a "revisar a cifra" para melhorá-la de forma "substancial". Ele não quis entrar em detalhes, mas a proposta revisada deverá ser apresentada na quarta-feira.
Em diferentes partes da Europa, os consumidores deixam de lado os pepinos, saladas e tomates, apresentados pela Alemanha como os possíveis vetores da contaminação. Os inicialmente 150 milhões de euros propostos serão destinados a todos os produtores. Seriam indenizados em até 30% do preço de referência de junho das hortaliças mais afetadas - pepinos, tomates, saladas -, completou Ciolos.
Mas estes fundos são considerados insuficientes pela Espanha, maior exportador de frutas e hortaliças da Europa, e cujas vendas caíram quando as autoridades alemãs suspeitaram, erroneamente, que os pepinos espanhóis teriam originado a crise.
A ministra da Agricultura espanhola, Rosa Aguilar, insistiu que os agricultores sejam indenizados em 100%, assim como seu colega francês Bruno Le Maire, que exigiu uma indenização total pelas perdas dos produtores agrícolas na França. Madri considera que suas perdas tenham sido de cerca de 225 milhões de euros por semana e quer que a Alemanha assegure em 100% a reparação do prejuízo causado, ameaçando o país com um processo. Os alemães, por sua vez, avaliaram suas perdas em cerca de 50 milhões de euros.
Os ministros da Agricultura prevêem também analisar uma melhora da rastreabilidade e do sistema de alerta. Entretanto, vários países, entre eles a Rússia, proibiram a importação de hortaliças europeias enquanto não for identificada a fonte da contaminação pela bactéria E.coli. O governo alemão era alvo de duras críticas nesta terça-feira por conta da gestão da epidemia.
A Comissão Europeia criticou as autoridades do país, que lançaram sem provas alertas contra hortaliças suspeitas de transmitir a bactéria, e proibiram o consumo de determinados produtos sem uma base sólida. "É crucial que as autoridades nacionais não se apressem em lançar alertas sem fundamento, isso cria psicose e problemas", advertiu o comissário para a Saúde, John Dalli, durante um debate no Parlamento Europeu reunido na sessão plenária em Estrasburgo.
As primeiras análises das 40 amostras extraídas de uma granja no norte da Alemanha que produz brotos germinados deram negativo. Além das 17 amostras da granja ainda a serem analisadas, os cientistas acreditam que terão resultados melhores na análise de um pacote de brotos de uma granja encontrados no refrigerador de um paciente de Hamburgo que já se curou.
Esse pacote, que venceu em 23 de abril, ou seja, oito dias antes de serem detectados os primeiros casos graves, poderá ser determinante na busca promovida pelos diferentes institutos sanitários alemães há três semanas. Mas também existe a possibilidade de "não encontrarmos a fonte", reconheceu, em declarações ao jornal Bild, Gert Lindemann, ministro da Agricultura da Baixa Saxônia, onde está a granja suspeita.
Entretanto, a ministra alemã da Agricultura e Consumo, Ilse Aigner, respondeu às críticas da oposição e da imprensa, que denunciam a ausência de coordenação. "Trabalhamos todos juntos atualmente. Não há nenhum conflito de competência", declarou nesta segunda-feira à noite a ministra Ilse Aigner.
O diretor do Instituto Robert Koch, órgão federal encarregado da vigilância sanitária, reconheceu, no entanto, que o federalismo alemão, que divide de forma precisa o poder de decisão, podia complicar o trabalho. "Mas o sistema federal é sagrado na Alemanha", disse Reinhard Burger, presidente do instituto Robert Koch.